Artigo: Jornal Correio da Manha - O popular Jogo do Pau tem muito que se lhe diga 1986: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
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* '''Artigo:''' O popular Jogo do Pau tem muito que se lhe diga
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* '''Jornal:''' Correio da Manhã
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* '''Publicação:''' 29 abril 1986,  
* '''Autor :''' João dos Reis
* '''Publicação:''' 29 abril 1986, pag. 17
 
 
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Eu sou um caso especial no jogo do pau. Dediquei a minha vida praticamente a isto, e hoje em dia sou profissional e sou único. Não há mais ninguém em Portugal. Comecei a aprender o jogo do pau em Lisboa, no [[Ateneu Comercial de Lisboa|Ateneu]]. Depois corri todos os clubes de Lisboa, como por exemplo o [[Ginásio Clube Português]], Escolas do Jogo do Pau da Zona Sul do Tejo, Ribatejo, Alhos Vedros e outras regiões.
 
Aprendi com esses mestres todos e depois fui para o Norte, onde aprendi também "mestres" ainda vivos, aqueles da velha guarda. Praticamente
fui aluno de todos os mestres e jogadores do pau portugueses. - declarou [[Nuno Ruddo|Corvelo Russo]].
 
[[Nuno Russo|Corvelo Russo]] encontrava-se na Aldeia das Açoteias, a participar como técnico e observador do Torneio Regional da Zona Sul de Jogo do Pau, onde iriam apurar-se os melhores jogadores da região do Sul, para depois, em conjunto com os cinco melhores apurados da
Zona Norte, se classificar os melhores de cada região os quais depois vão participar no Campeonato Nacional, a disputar nos finais do próximo mês.
 
O jogo do pau é uma arte e um desporto tradicional português. Um desporto de combate, de defesa e ataque, originário das zonas do Norte de Portugal, onde houve os melhores «mestres» e jogadores, especialmente no Minho.
 
[[Nuno Russo|Corvelo Russo]], apesar de ser actualmente o único profissional português do jogo do pau e um qualificado «mestre» nesta popular arte nortenha, é alentejano, nascido no distrito de Portalegre. Tem 32 anos de idade e começou a aprender a «arte» quando tinha apenas 17.
 
Falou depois sobre o típico trajo dos jogadores, que mais se parece com o dos samurais, do Japão. Procurámos uma solução actualizada para que o jogo tivesse realmente características desportivas, porque o jogo do pau é, de facto, um desporto.
 
Antigamente, as competições eram feitas a bater-se com força no adversário, sempre dentro de uma circunferência desenhada no chão, com seis metros de diâmetro. Quem caía, caía.
 
Dai resultava por vezes mortes e feridos graves. Mas o jogo evoluiu com os anos. Estas competições mantiveram-se até ao princípio do século. Depois começou-se a proteger o jogador, criando-se uma armação especial.
 
O nosso interlocutor adiantou ainda que estamos numa época em que o pau já não é preciso para a sobrevivência, nem para defender a vida, como de facto sucedia há muitos anos.
 
Com características iguais ao nosso não existe outro jogo do pau em parte nenhuma do Mundo. O nosso reveste com efeito, características inéditas e é considerado, a nível mundial, o mais evoluído.
 
O pau usado neste jogo é o lódão, uma árvore celtácea muito vulgar em Portugal, da família das ramnáceas, que também se chama lodo. Alguns jogadores preferem no entanto outro tipo de pau, como o de castanheira.
 
Apontando-nos para o pau, [[Nuno Russo|Corvelo Russo]] explicou:
 
«Este aqui é uma adaptação de uma madeira que é uma cana maciça. Fizemos essa adaptação, porque a cana maciça é muito mais macia, uma espécie de junco. Para a protecção, como não pode ser pesada, tivemos que utilizar uma vara que não fosse também muito agressiva».
 
O pau normal tem um metro e cinquenta e cinco. Segundo [[Nuno Russo|Corvelo Russo]], a vestimenta, ou protecção dos jogadores, demorou cinco anos estudar. «Foram mesmo adaptações feitas de propósito para este jogo. A própria rede é uma rede de esgrima de sabre, adaptada. O outro material, optámos em mandar fazer todo em lona, que fica muito mais barato e protege da mesma maneira».
 
Vinte e cinco jogadores participaram no Torneio Regional da Zona Sul, em Albufeira.
 
«Neste momento estão aqui 25 pessoas, mas do Algarve só estão dois jogadores. Um, por acaso, nem pratica o jogo do pau no Algarve. É um participante da Escola de Fuzileiros, que é algarvio, e outro que é professor de Educação Física em Portimão e praticou em Lisboa e continua a praticar no Algarve. Tem uma escola com alguns alunos e veio aqui também competir.
 
O resto é tudo de Lisboa e arredores.
 
«Não andamos a treinar só para a exibição. O jogo do pau tem uma técnica de defesa e ataque que tem de ser sempre utilizada, e em
em exibição nem sempre se pode pôr essa pureza toda da técnica. Além disso, para acompanhar o progresso como desporto, tem que haver uma competição».
 
''Corvelo Russo, o «pai» do joigo do pau no Algarve
 
Texto: João dos Reis<br>
Fotos: Loução Filho»
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Revisão das 16h39min de 4 de maio de 2023

Sobre

  • Artigo: O popular Jogo do Pau tem muito que se lhe diga
  • Jornal: Correio da Manhã
  • Autor : João dos Reis
  • Publicação: 29 abril 1986, pag. 17


« Eu sou um caso especial no jogo do pau. Dediquei a minha vida praticamente a isto, e hoje em dia sou profissional e sou único. Não há mais ninguém em Portugal. Comecei a aprender o jogo do pau em Lisboa, no Ateneu. Depois corri todos os clubes de Lisboa, como por exemplo o Ginásio Clube Português, Escolas do Jogo do Pau da Zona Sul do Tejo, Ribatejo, Alhos Vedros e outras regiões.

Aprendi com esses mestres todos e depois fui para o Norte, onde aprendi também "mestres" ainda vivos, aqueles da velha guarda. Praticamente fui aluno de todos os mestres e jogadores do pau portugueses. - declarou Corvelo Russo.

Corvelo Russo encontrava-se na Aldeia das Açoteias, a participar como técnico e observador do Torneio Regional da Zona Sul de Jogo do Pau, onde iriam apurar-se os melhores jogadores da região do Sul, para depois, em conjunto com os cinco melhores apurados da Zona Norte, se classificar os melhores de cada região os quais depois vão participar no Campeonato Nacional, a disputar nos finais do próximo mês.

O jogo do pau é uma arte e um desporto tradicional português. Um desporto de combate, de defesa e ataque, originário das zonas do Norte de Portugal, onde houve os melhores «mestres» e jogadores, especialmente no Minho.

Corvelo Russo, apesar de ser actualmente o único profissional português do jogo do pau e um qualificado «mestre» nesta popular arte nortenha, é alentejano, nascido no distrito de Portalegre. Tem 32 anos de idade e começou a aprender a «arte» quando tinha apenas 17.

Falou depois sobre o típico trajo dos jogadores, que mais se parece com o dos samurais, do Japão. Procurámos uma solução actualizada para que o jogo tivesse realmente características desportivas, porque o jogo do pau é, de facto, um desporto.

Antigamente, as competições eram feitas a bater-se com força no adversário, sempre dentro de uma circunferência desenhada no chão, com seis metros de diâmetro. Quem caía, caía.

Dai resultava por vezes mortes e feridos graves. Mas o jogo evoluiu com os anos. Estas competições mantiveram-se até ao princípio do século. Depois começou-se a proteger o jogador, criando-se uma armação especial.

O nosso interlocutor adiantou ainda que estamos numa época em que o pau já não é preciso para a sobrevivência, nem para defender a vida, como de facto sucedia há muitos anos.

Com características iguais ao nosso não existe outro jogo do pau em parte nenhuma do Mundo. O nosso reveste com efeito, características inéditas e é considerado, a nível mundial, o mais evoluído.

O pau usado neste jogo é o lódão, uma árvore celtácea muito vulgar em Portugal, da família das ramnáceas, que também se chama lodo. Alguns jogadores preferem no entanto outro tipo de pau, como o de castanheira.

Apontando-nos para o pau, Corvelo Russo explicou:

«Este aqui é uma adaptação de uma madeira que é uma cana maciça. Fizemos essa adaptação, porque a cana maciça é muito mais macia, uma espécie de junco. Para a protecção, como não pode ser pesada, tivemos que utilizar uma vara que não fosse também muito agressiva».

O pau normal tem um metro e cinquenta e cinco. Segundo Corvelo Russo, a vestimenta, ou protecção dos jogadores, demorou cinco anos estudar. «Foram mesmo adaptações feitas de propósito para este jogo. A própria rede é uma rede de esgrima de sabre, adaptada. O outro material, optámos em mandar fazer todo em lona, que fica muito mais barato e protege da mesma maneira».

Vinte e cinco jogadores participaram no Torneio Regional da Zona Sul, em Albufeira.

«Neste momento estão aqui 25 pessoas, mas do Algarve só estão dois jogadores. Um, por acaso, nem pratica o jogo do pau no Algarve. É um participante da Escola de Fuzileiros, que é algarvio, e outro que é professor de Educação Física em Portimão e praticou em Lisboa e continua a praticar no Algarve. Tem uma escola com alguns alunos e veio aqui também competir.

O resto é tudo de Lisboa e arredores.

«Não andamos a treinar só para a exibição. O jogo do pau tem uma técnica de defesa e ataque que tem de ser sempre utilizada, e em em exibição nem sempre se pode pôr essa pureza toda da técnica. Além disso, para acompanhar o progresso como desporto, tem que haver uma competição».

Corvelo Russo, o «pai» do joigo do pau no Algarve

Texto: João dos Reis
Fotos: Loução Filho»


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