Doc: Boletim GCP 1939

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre


O Boletim do Ginásio Clube Português, faz em 1939, após o falecimento trágico do grande atleta Frederico Hopffer (filho), uma publicação na sua homenagem.

Excertos da obra

« Ao dicta: estas palavras, ao recordar a trágica ocorrência que roubou ao nosso grémio um dos seus mais valiosos elementos e aos carinhos de familia um irmão, um esposo, um filho estremecido, não pode o pensamento esquivar-se a amargas e tristes conjecturas.

Frederico Hoppfer, em pleno vigor da sua vida ainda tão curta, e victima da fatalidade que lhe corta o fio da existência num instante, inesperadamente, sem preâmbulos que nos permitissem irmo-nos acostumando à dolorosa ideia do seu desaparecimento.

Jamais a sua figura insinuante, esbelta, distinta surgirá nas salas deste Gimnasio, onde sempre era acolhida, pelos companheiros na gimnástica, por novos e por velhos, com a mais expressiva simpatia e cordial amizade. Mas nem por isso serà esquecida. O Mestre so mesmo tempo professor e camarade, o atleta a quem o Gimnásio deveu tantos dos seus triunfos públicos, estarà sempre presente na memória de todos quantos conviveram debaixo destes tetos desde que Frederico Hoppfer para aqui entrou, ainda menino até ao dia funesto em que perdeu a vida.

Grande parte da sua mocidade se desenrolou dentro do Gimnasio Club. Estas paredes o viram medrar, crescer, desenvolver o seu arcaboiço passante de atleta perfeito, familiarizar-se no manejo de toda a aparelhagem da gimnástica artistica, em cuja execução era eximio. Aqui aprendeu tudo quanto depois ensinava com zelosa competència. Era um filho adoptivo desta casa, e dos mais queridos, porque ninguém, dêsde o mais simples empregado aos sucessivos corpos gerentes, reservava para Frederico Hoppfer outros sentimentos que não fosse de apreço e estima.

Custa agora o pensamento a compénetrar-se da realidade. Parece-nos inacreditável que, de um momento para o outro, se haja extinguido para sempre uma luz que cintilava com o máximo fulgor; que se tenha dispersado instantaneamente aquela soberba energia animando de vigorosos traços, másculos e varonis, o explèndido Gimnasta que infausta morte arrebatou de entre nós.

Frederico Hoppfer foi a enterrar. Envolvida no estandarte do Gimnasio Club Português, a sua urna foi transportada para o derradeiro poiso aos ombros dos seus antigos companheiros das lides atléticas, que expontaneamente solicitaram para si a honra dèsse doloroso encargo. A esta homenagem e àquela que o estandarte simbolisava, vem juntar-se, em sentidas condolências, a saudade de todos os seus amigos do Gimnásio Ciu.

MANUEL FRADINHO »

« Frederico Francisco Hoppfer nasceu em 18 de Julho de 1901. Forte, de uma familia de gente forte, cèdo mostrou disposição para o desporto. Entra para o club em 27 de Outubro de 1919 seguindo uma tradição dos Hoppfer, que todos têm pertencido a esta casa e para ela tem trabalhado com carinho e dedicação.

Em 1921 entra pela primeira ves numa festa do club e, desde então, revela-se o excelente gimnasta que todos nós conheciamos, numa continui- dade de esforço e aplicação que lhe confere em 1929 o Prémio Francisco Xafredo, instituido para galardoar o aluno «mais assiduo e aplicados».

Em 1924 vai a Espanha e honra as nossas cores ao exibir os seus primorosos exercicios, e lá volta em 1936 onde os seus voos arrancam as maiores ovações que a nossa equipe ouviu.

Em 1923 entra na 1ª Prova do Atleta Completos e classifica-se, mostrando o electismo dos homens do Gimnasio, e com rara justiça, eleito sócio técnico e, por fim, imposto somente pelo seu valor, torna-se professor do club a partir de 1933.

Ao fim da primeira época de proficiente ensino, os seus alunos organizam uma pequena festa de agradecimento e entregam-lhe uma mensagem, diploma de valor atribuido ao que mais valia. Depois, durante as épocas de 34-35. 35-36, 36-37, 37-38 e na ultima, sempre deu classes de Gimnástica Aplicada, Artistica e de Jogo de Pau. preparando os que são hoje os novos valores no Gimnásio e abandonando apenas a Aplicada nas duas ultimas épocas, depois da vinda de Schwarz, Caracter a toda a prova, leal e franco, mostrou-se sempre como o primeiro capaz do sacrificio, como o melhor ao serviço do Gimnásio.

Companheiro ideal, com uma graça fácil, sabia ser, como ninguem o mestre que possui o amor dos seus discipulos, o gimnasta que agrada ao público e sabe conquistar as suas simpatias.

Assim, vivendo no coração de todos nós, veio em 6 de Fevereiro de 1939 o minuto trágico que o roubou à nossa convivència.

HUGO GOMES »


Boletim GCP 1939.jpg

Ver também

Referências