Lenda da Justiça de Fafe: diferenças entre revisões
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== Poema do Barão de Espalha Brasas == | |||
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É Fafe povoação muito moderna,<br> | |||
contando um séc ‘lo apenas de existência.<br> | |||
De Moreira de Rei foi subalterna<br> | |||
e sobre ela alcançou magna ascendência.<br> | |||
Na terra decadente, em fruto avonde,<br> | |||
havia outr’ora um nobre, altivo e ousado;<br> | |||
De Moreira de Rei era Visconde,<br> | |||
político influente e Deputado.<br> | |||
Homem franco e leal, de poucas tretas,<br> | |||
não ligava à coroa e aos brasões;<br> | |||
se o feriam, largava as etiquetas,<br> | |||
correndo o atrevido a bofetões.<br> | |||
Nas Cortes, certo dia, a uma sessão<br> | |||
a tempo não chegou; e um tal Marquês,<br> | |||
supondo que o Visconde era vilão,<br> | |||
censurou-o em gesto descortês.<br> | |||
O Visconde, que entrara pressuroso<br> | |||
inda ouviu do Marquês o insulso estilo<br> | |||
em que ele lhe chamava “cão tinhoso”,<br> | |||
mas sentou-se, fingindo-se tranquilo.<br> | |||
Finda a sessão, ao Marquês petulante<br> | |||
a frase censurou, de audácia rara;<br> | |||
porém este, num gesto provocante,<br> | |||
arremessou-lhe a fina luva à cara.<br> | |||
Ajustou-se o duelo; e competia<br> | |||
a escolha das armas ao Visconde.<br> | |||
Marcou-se p ‘ra o encontro a hora, o dia<br> | |||
e o local, que eu nunca soube aonde.<br> | |||
Ocultos da polícia e dos meirinhos,<br> | |||
no sítio da pendência, o fidalgote<br> | |||
compareceu, assim como os padrinhos.<br> | |||
Veio o Visconde e um homem c ‘o um caixote…<br> | |||
E dentro deste as armas escolhidas<br> | |||
pelo Visconde: as armas dos pataus!<br> | |||
Nem ‘spadas nem pistolas homicidas:<br> | |||
Eram dois resistentes varapaus!!!<br> | |||
O Marquês, em tais armas logo inepto,<br> | |||
ao ver aqueles paus de marmeleiros,<br> | |||
forçado a aceitar o estranho repto<br> | |||
pegou por sua vez num dos fueiros.<br> | |||
Começou a sessão de bordoada:<br> | |||
e o Visconde, com a mor placidez,<br> | |||
deu-lhe tanta e tão pouca fueirada<br> | |||
que o lombo pôs num feixe ao tal Marquês.<br> | |||
Mau grado tudo ser gente de sizo,<br> | |||
os presentes, em vez de lamentar,<br> | |||
não conseguiram sufocar o riso,<br> | |||
findando o duelo em gargalhada alvar.<br> | |||
Da hilariedade ao ver o desaforo,<br> | |||
acode gente; e além daquela gafe,<br> | |||
começam todos a gritar em coro;<br> | |||
“-Oh! Viva! Viva a Justiça de Fafe!!!”<br> | |||
De Moreira de Rei, pois, ao Visconde,<br> | |||
do duelo a propósito descrito,<br> | |||
se deve a origem, que a História esconde,<br> | |||
do ventilado e tão estranho dito. | |||
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== Ver também == | == Ver também == |
Revisão das 22h28min de 5 de agosto de 2022
Sobre
A lenda da Justiça de Fafe é uma apologia da justiça popular. Um dos maiores símbolos referenciais de Fafe, é vista como o espírito e o verdadeiro ex-libris desta localidade, e foi celebrada por um monumento na cidade.
A versão mais difundida desde o início do século XIX foi objecto de um longo poema de Inocêncio Carneiro de Sá, o Barão de Espalha Brasas. Narra um episódio, registado no século XVIII e protagonizado pelo Visconde de Moreira de Rei, político influente no concelho e homem de bem mas não de levar afrontos para casa.
Deputado às Cortes, terá chegado atrasado a uma sessão daquele órgão monárquico, no que terá sido censurado grosseiramente por um marquês, também deputado, que chegou ao desplante de lhe chamar "cão tinhoso". O visconde fingiu não ouvir o impropério e mostrou-se tranquilo durante a sessão mas, finda aquela, interpelou o marquês petulante, repreendendo-o pelas palavras descorteses que lhe havia dirigido. Em vez de lhe pedir desculpa, este arremessou-lhe provocadoramente as luvas no rosto, convocando-o para um duelo.
Ao ofendido competia escolher as armas, e quando todos pensavam que iria preferir espadas ou pistolas, como era usual na altura, o visconde apresentou-se para o recontro munido de dois resistentes varapaus. O marquês não sabia manejar esta arma grosseira mas o visconde, perito na arte do jogo do pau, tradicional nesta região, espancou o seu opositor. À gargalhada perante o acontecimento, os populares que presenciavam não se contiveram e gritaram: "Viva a Justiça de Fafe!".
Outra versão narra as consequências de um pedido de casamento por parte dum lisboeta. Mas quando o noivo se recusou a casar, o pai da rapariga perseguiu-o e aplicou-lhe a Justiça de Fafe.
O Monumento à Justiça de Fafe, evocativo desta tradição e da autoria de Eduardo Tavares, foi inaugurado em 23 de Agosto de 1981 na rua João XXIII desta cidade. Consiste em um estátua com a particularidade de representar um homem a bater noutro com um pau e foi colocada nas traseiras do tribunal de Fafe, insinuando que quando a justiça oficial não funciona, a mão popular apresenta-se. [1]
Poema do Barão de Espalha Brasas
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É Fafe povoação muito moderna, Na terra decadente, em fruto avonde, Homem franco e leal, de poucas tretas, Nas Cortes, certo dia, a uma sessão O Visconde, que entrara pressuroso Finda a sessão, ao Marquês petulante Ajustou-se o duelo; e competia Ocultos da polícia e dos meirinhos, E dentro deste as armas escolhidas O Marquês, em tais armas logo inepto, Começou a sessão de bordoada: Mau grado tudo ser gente de sizo, Da hilariedade ao ver o desaforo, De Moreira de Rei, pois, ao Visconde, |
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