José do Telhado
Sobre
José do Telhado, alcunha de José Teixeira da Silva, nasceu no lugar do Telhado, Castelões de Recesinhos, Penafiel, a 22 de Junho de 1818. Viria a falecer em Mucari, Malanje, Angola, no de 1875 quando cumpria a sua pena de 15 anos de degredo.
Foi foi um militar e famoso salteador português. Chefe da quadrilha mais famosa do Marão, Zé do Telhado é também conhecido por "roubar aos ricos para dar aos pobres" e, por isso, muitos o consideram o Robin dos Bosques português. [1]
Segundo a tradição oral e escrita, José do Telhado era um exímio jogador de pau.
Biografia completa
O salteador José do Telhado nasceu em Castelões de Recesinhos no Concelho de Penafiel em 1816. Seus pais, Joaquim de Matos e Maria Lentina, eram proprietários da única casa com telhado de telhas, visto que todas as outras casas eram cobertas de colmo.
Já seu Pai tinha por alcunha Joaquim do telhado “... seu pai era o famigerado Joaquim do Telhado, capitão de ladrões, valente com as armas, e rei devastador em Franceses que ele matava, porque eram Franceses e porque eram ladrões...”.
O nosso herói partiu para o lugar da Sobreira com apenas catorze anos para aprender uma profissão e conquistar o amor da prima. Aí aprendeu o ofício de seu tio de nome Lentine (por ser Francês), o de Castrador. Aos dezanove anos pediu sua prima em casamento o tio recusou por José ser pobre e é então que parte para Lisboa em busca da sua sorte. Algum tempo depois volta a Sobreiro e casa com sua prima.
O seu primeiro assalto motivado pelo desespero de não ter o que dar de comer á sua família, foi a um lavrador que lhe entregou tudo o que tinha em troco da sua vida, mais tarde José iria arrepender-se de roubar alguém tão pobre como ele.
É então que em 1849 se forma a primeira quadrilha na qual José do Telhado substitui o já conhecido Salteador Custódio Boca Negra, deste Bando fazem parte o Avarento, o Veterano, o Tira-Vidas, o Girafa, o Sancho Pacato, o José Pequeno, o Mói-tudo, o José Simões e ainda o Joaquim do Telhado irmão do chefe.
Já em 1842 este Bando tinha tentado assaltar a Casa de Cadeade tentativa essa que saiu gorada.
Em Janeiro de 1852 o seu Bando assalta o Solar do Carrapatelo aí conseguiram que a proprietária lhes entregasse um saque de “... duzentos mil Reis e todo o ouro e prata que lhe pertenciam e á sua filha...). Procurando o famoso tesouro do falecido proprietário arrombaram a porta dos aposentos e numa escrivaninha encontraram dinheiro que encheu quatro sacos.
De bolsos e sacos cheios os nossos Salteadores subiram a serra e repartiram o saque junto á Cruz de Montedeiras, local hoje conhecido como Cruzeiro das Partilhas.
Denunciado a Adriano José da Carvalho e Melo, administrador de Marco de Canaveses, por José Pequeno e seu irmão Joaquim do Telhado José vê-se obrigado a planear a sua fuga para o Brasil, não sem antes se vingar de José Pequeno o qual sucumbiria após uma prolongada luta que terminaria com José do Telhado a cortar a língua do delator.
José do Telhado foi preso no dia 31 de Março de 1859 quando estava a bordo da Barca “Oliveira” pronta para partir para o Rio de Janeiro. Deu entrada na Cadeia da Relação no Porto onde conheceu Camilo Castelo Branco. Com uma excelente prestação de seu advogado José escapa á pena capital sendo desterrado para África onde fugiu da prisão em Angola.
José Teixeira da Silva recomeça então uma nova vida como agricultor respeitado e com família, amado por seus amigos e conhecidos. José do Telhado morreu de varíola em 1875, conta na sua sepultura construída por seus amigos em tijolo burro e um telhado a sua fotografia e a seguinte inscrição : “ Aqui jaz José do Telhado”.
Relação de Camilo Castelo Branco com José do Telhado
Uma dessas personagens que Camilo Castelo Branco conheceu na Cadeia da Relação do Porto, suspeito de crime de adultério, foi José do Telhado, com o qual conviveu durante algum tempo. Camilo apresenta no seu livro Memórias do cárcere, em traços largos, uma biografia do José do Telhado, pelo que lhe dedica todo o Capítulo XVI, do volume II, acrescido posteriormente de algumas referências.
Conta-se que Camilo, enquanto esteve preso por adultério, temia pela sua vida, pois imaginava que Pinheiro Alves, o marido enganado por Ana Plácido, poderia subornar um preso qualquer para o matar. Esta sua preocupação, que lhe tirava o sono e o sossego, foi transmitida a José do Telhado, que lhe terá respondido “[…] que estivesse descansado, pois se alguém lhe tocasse com um dedo, três dias e três noites não chegariam para enterrar os mortos […]”.
Como reconhecimento por esta protecção, Camilo conseguiu que o seu advogado de defesa fosse também o mesmo para defender o Zé do Telhado. Por esse motivo, José do Telhado teve como defensor o Dr. Marcelino de Matos que o livrou da forca, embora não tivesse conseguido librá-lo do degredo na África Ocidental (Angola), durante 15 anos. [2]
Alguma bibliografia dedicada a José do Telhado
- BRANCO, Camilo Castelo, Memórias do Cárcere, dois volumes, Porto: Editora Viúva Moré, 1862 (ver livro)
- CABRAL, António, Camilo de Perfil. Livrarias Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1922
- NORONHA, Eduardo de, José do Telhado, Edição d'O Primeiro de Janeiro, 1ª edição, Porto, 1923
- NORONHA, Eduardo de, José do Telhado em África, Edição d'O Primeiro de Janeiro, 1ª edição, Porto, 1924
- MONTEIRO, Campos, José do Telhado e os Quadrilheiros. Revista Civilização, nº 29-34, Nov. 1930 a Abril 1931
- BESSA-LUÍS, Agustina, A Sibila, Editora Nova Fronteira, 1954 (ver livro)
- SOUSA, Rafael Augusto de, A vida de José do Telhado, 2ª ed. - Porto : [s.n.], 1874
- SILVA, Joaquim Palminha da, A Revolução da Maria da Fonte - subsídios para a sua história e interpretação. Edições Afrontamento, Porto, 1978
- PINTO, José Manuel de Castro, José do Telhado, Lisboa: Plátano Editora, 2ª edição Setembro 2007 (ver livro)
Galeria de imagens
Vídeos
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O documentário é visualizado no link externo da RTP Documentário sobre a figura de José do Telhado. O professor José Hermano Saraiva recorda a sua existência atribulada, incluindo o percurso militar e de líder revolucionário, a que se seguiu uma vida de assaltante nas serranias do Marão e, finalmente, o degredo em Angola. |
Links Externos
Ver também
- Personagens Históricas
- Maria da Fonte
- Excelente artigo sobre a sua vida e morte, por Carlos Morais (Independência - Revista de Cultura Lusíada)
- Livro «Memórias do cárcere» de Camilo Castelo Branco
- Livro «José do Telhado» de José M. Castro Pinto
- Artigo da revista da ARMADA sobre José do Telhado
- Recorte Jornal em "Vida Mundial Ilustrada" de 1941 sobre José do Telhado
Referências
- ↑ https://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_do_Telhado
- ↑ Texto de Maximina Girão Ribeiro em ETCeTAL jornal
- ↑ Foto de José do Telhado (à direita) com o seu irmão
- ↑ Capa do Livro «Confissão Sincera e Completa da Vida e Crimes de José do. Telhado», Extraído das «Memorias do Carcere» de Camilo Castelo Branco
- ↑ Capa do Livro «Vida do José do Telhado: precedido de política interna» de Camilo Castelo Branco
- ↑ Uma prancha adaptada de «Memórias do Cárcere» com Camilo Castelo Branco e José do Telhado, de Fernando Santos Costa para o jornal «O Crime»