Mestre: Francisco Farinha

Fonte: Jogo do Pau Português
Nascimento (?)
Morte (?)
Nacionalidade Portuguesa (?)
Naturalidade Lisboa (?)
Escola Lisboa

Sobre

Mestre Francisco Farinha foi empregado na Alfandega e aprendeu a jogar com José Maria da Silveira, no quintal que este tinha na sua casa, perto da igreja dos Caetanos.

Teve como colega de treino o Mestre Pedro Augusto da Silva. Embora tivessem o mesmo mestre, ambos tinha estilços diferentes, enquanto que o jogo de Farinha era académico, o de Pedro Augusto pendia para o pitoresco, era mais brincado, mais ligeiro, mais alegre.

Conhecimentos técnico

Mestres onde obteve conhecimentos técnicos do Jogo do Pau português:

Publicações onde é citado

« N’essa noite da minha apresentação vi esgrimir muitos jogadores, mas as attenções concentraram-se todas nos dois últimos, que eram os seus mais notáveis discipulos.

Estão ambos mortos, mas um d’elles, Farinha, empregado na Alfandega, só tive o prazer de o vêr jogar duas vezes.

E digo prazer, porque é realmente um espectáculo extremamente agradável o de dois luctadores da mesma força, ostentando todos os seus recursos e os da arma que manejam, com a maior facilidade, certeza e elegância, nas posições e nos movimentos – jogando durante meia hora, sem um leve toque, e com os golpes apenas indicados pelo gesto! Isto, feito com o pau – arma pesada e d’alcance – ainda mais provoca e justifica a admiração.

O outro contendor era Pedro Augusto da Silva — empregado no Ministério da Fazenda, o introductor e primeiro mestre d’esta esgrima no Gymnasio Club de Lisboa, onde deixou a tradição do mestre – e que foi, durante os últimos annos, o prévôt effectivo da escola de José Maria. Já se vê, portanto, que devia ser interessantissimo o prélio, em que os dois adversários se empenharam; sobretudo para mim, que nunca assistira áquelles assaltos, e que ao principio receiava a todo o momento vêr um braço quebrado ou uma cabeça partida!

Nada d’isso, porém, aconteceu, e quando elles, apontando os paus para a terra, fizeram as cortezias finaes e cumprimentaram a assembléa — esta applaudiu-os calorosamente. Ambos se tinham mostrado cortezes na lucta, rápidos e certeiros no ataque, previstos e firmes na defeza (…)

Discipulos do mesmo mestre, e ambos da mesma geração, representaram, no meu entender, os dois estylos, as duas maneiras d’esta esgrima. Farinha, uma cabeça antiga, com o cabello rente, a barba toda, e a expressão um tanto severa, era – se assim o podemos chamar- um clássico. Pedro Augusto, com o bigode negro, a cabelleira crescida, o olhar movel, e o gesto um pouco brincão, era romântico.

Aqui, como nas lettras, como em tudo, no estylo via-se o homem. O jogo de Farinha era académico, o de Pedro Augusto pendia para o pittoresco, era mais brincado, mais ligeiro, mais alegre. Assim devia ser, porque de todos os primeiros, que conheci, era elle o que dispunha de menos força physica, e então soccorria-se da agilidade, que, graças ao constante exercício, conservou até ao fim da vida. Era um pasmo vêr como elle, com muito mais de sessenta annos, fraco e achacado do peito, ainda saltava, na sala do Gymnasio, á compita com os seus discipulos, rapazes de dezoito e vinte annos! Para professor dar-lhe-ia eu a preferencia, mas n’um assalto, com um jury sério, o jogo de Farinha teria talvez maior numero de votos. Este era duma correcção absoluta, um verdadeiro primor d’arte todo o seu conjuncto! Um modelo raro, para a illustração d’um livro, d´um tratado especial! Que perfil o de toda a sua figura! que firmeza de posição, que rapidez, e que segurança nos movimentos, no avançar, no recuar, no ataque e na defeza! Annos depois tornei a vêl-o jogar — já doente — Farinha ainda era o mesmo impeccavel artista!

Dir-se-ia uma estatua em movimento, se a estatua podesse dar-nos a impressão real da vida! »
AÇA, Zacarias de, Lisboa Moderna, Lisboa: Viúva Tavares Cardoso, 1906 (ver mais)

Ver também

Referências