Artigo: Esgrima Nacional - jogo de pau - 1946

Sobre

• Relevância: ★★☆
• Título: Esgrima Nacional: jogo de pau
• Autor Sebastião da Mota Cerveira
• Publicação: Jornal «Novidade» de 1946

Resumo

O mestre Frederico Hopffer organizou uma sessão de propaganda de jogo de pau nos Bombeiros Voluntários do Dafundo. O evento contou com a participação de vários mestres e discípulos e foi marcado por assaltos e demonstrações de habilidade. Hopffer mostrou o seu método de ensino e foi elogiado por sua clareza e conhecimento. A sessão foi bem-sucedida e reuniu amigos e admiradores do mestre.

Artigo

« Uma sessão de propaganda, organizada pelo mestre Frederico Hopffer, nos Bombeiros Voluntarios do Dafundo. Na sala dos Bombeiros Voluntários do Dafundo realizou-se há dias, por iniciativa do mestre Frederico Hopffer, uma sessão de propaganda de jogo de pau, onde se procurou recordar os tempos saudosos em que a esgrima portuguesa estava no seu apogeu. A iniciativa partiu, como já dissemos, do mestre Hopffer, uma das maiores glórias da esgrima nacional, assistiram à sessão muitos amadores e recordamo-nos de ver os senhores: dr. José Maria Rangel de Sampaio, mestre Domingos Varejão com cinco discípulos, Frederico Hopffer e Júlio Hopffer, filhos do mestre Hopffer, eng. Mota e Sousa, António Montez e Mário Montez, mestres Ermelindo dos Santos e Frederico Paredes, António da Silva Monteiro, António Jalles, Inácio Roberto Guedes e Nunes Caçador, discípulos do mestre Domingos Miguel, e algumas senhoras. A sessão começou por um assalto entre o mestre Domingos Varejão e o seu discípulo Domingos Ribeiro. Pancadas rijas da parte da mocidade; experiência e boas defesas da parte do mestre que, apesar dos seus 62 anos, ainda maneja bem urna vara de lodão! Depois o mestre Hopffer, com quatro discípulos, expôs o seu método de ensino, regalando os amadores da bela esgrima durante alguns minutos. Clareza, experiência e profundo conhecimento do «metier», nos revelou o mestre Hopffer, e os seus rapazes, método, ordem e disciplina! Hopffer é, indiscutivelmente, um grande mestre, um profundo conhecedor da arte de José Maria da Silveira e um técnico de vasta competência. Francamente, gostámos imenso da maneira clara, metódica e precisa, por que nos explicou as diferentes partes do jogo de pau! Aprendendo com homens desta categoria é que os discípulos podem, um dia, intitular-se mestres e não deixar morrer a esgrima portuguesa! Hopffer explicou as diferentes guardas de espera, depois as pancadas redondas, enviasadas e arrepiadas, por dentro e por fora, o rebate e a seguir as pontuadas. Passou depois a descrever os vira-costas, a seguir as guardas avançadas, ao rebate, às pancadas enviesadas, altas, e às pancadas baixas. Entrou depois nos sarilhos, de cima, de baixo, das mãos sobrepostas, sarilhos andando na circunferência, onde se joga, e, por último, nos sarilhos traçados da borda de água. E, à voz do mestre, os rapazes executavam, admiravelmente, o que ele ordenava; mostrando, duma maneira clara, que têm sido ensinados por homem que conhece a fundo a arte de jogar o pau! Hopffer passou depois para os «cortes», que tão eficazes são em combate, e explicou-os detalhadamente. Descreveu os cortes saídos, meio saídos, meio entrados, laterais, falou também nos cortes em que se volta ao mesmo terreno e nos antecipados. Os cortes, que parecem ter sido inventados pelos mestres Domingos Salreu ou Pereira das Taipas, constituem uma maneira hábil de responder a pancadas não aparadas. E, no final do seu trabalho, o mestre Hopffer ouviu uma prolongada salva de palmas. Seguiu-se um assalto entre o mestre Varejão e o seu discípulo José dos Santos. Bom assalto. Houve depois uma demonstração de assalto entre o mestre Hopffer e o seu filho Júlio, e que muito agradou. O mestre Frederico, apesar da sua idade, dominou nitidamente, fazendo uso da sua larga experiência e do profundo conhecimento que possui da esgrima portuguesa. Jogaram depois Nunes Caçador e Inácio Guedes, dois discípulos do mestre Domingos Miguel, do Ateneu. Pancadas rijas, certeiras, jogo violento, mesmo muito violento! Os dois rapazes, discípulos dum jogador de combate, fizeram um bom assalto. Depois, o mestre Domingos Varejão expôs o seu método de ensino, assaltando à medida que ia explicando os diferentes golpes. Agradou, sendo muito aplaudido. A seguir Júlio Hopffer e Caçador fizeram um assalto; dois rapazes com habilidade. Por último o mestre Frederico Hopffer fez, uma demonstração com Inácio Guedes, que causou excelente impressão na assistência. Terminada a pequena festa, mestres, discípulos e convidados reuniram-se, tendo sido tiradas várias fotografias. Foi um dia bem passado. Noutro tempos, estas reuniões faziam-se nos quintais ande então se praticava a bela esgrima, e ficaram célebres as tardes de jôgo de pau do Retiro da Pipa, da Travessa do Combro e da Rua das Taipas. Quanto ao mestre Frederico Hopffer, deve ter ficado satisfeito, pois na reunião que êle preparou, viu-se rodeado de amigos, amigos verdadeiros e sinceros admiradores que foram à sala dos Bombeiros Voluntários do Dafundo para aplaudir o mestre abalizado, o técnico competente e o homem que, apesar da sua avançada idade, servindo-se da sua larga experiência e dos seus vastos conhecimentos, pode ainda ser um jogador! »

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