Mestre: Frederico Hopffer
Sobre
Mestre Frederico Hopffer (Frederik Hopper) de origem Alemã, teve como formação base a "Escola de Lisboa". Iniciou a sua prática com o seu amigo e mestre Artur dos Santos, no Ginásio Clube Português e mais tarde, pelo Domingos Salréu e do seu contramestre José Dias «o 95».
Foi um discípulo que sempre procurou aprender e tomar lições de qualquer mestre ou jogador, mesmo que inferior a ele.
Com o objetivo de melhorar o tipo de jogo praticado em Lisboa, obteve algum conhecimento do jogo do Norte, viajando durante algum tempo pelo norte de Portugal, criando assim um novo estilo, uma compilação das técnicas já usadas em Lisboa com algumas que aprendeu no Norte. Nascendo assim, a nova "Escola Hopffer".
Esta nova Escola, viria num futuro próximo mudar todo o estilo praticado em Lisboa até à data, através dos ensinamentos dos seus três filhos, Frederico, Francisco e Júlio Hopffer.
O seu filho Júlio Hopffer, o melhor dos três, veio a influenciar os futuros novos Mestres de Lisboa, nomeadamente os principais, Armando Sacadura, Pedro Ferreira e Abel Couto.
Este Mestre foi autor de um dos melhores e mais conceituados livros sobre o JPP, o livro «Duas palavras sobre o jogo de pau», com a 1.ª edição ilustrada em 1924.
Conhecimentos técnico
Mestres onde obteve conhecimentos técnicos do Jogo do Pau português:
- Mestre Artur dos Santos
- Mestre Domingos Salréu
- José Gonçalves Dias («o 95»)
- Mestre Baptista Abelheira
- Mestre Pereira das Taipas
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Livros escritos
- Livro «Duas palavras sobre o jogo de pau» de 1924
- «Programa de ensino para instrutores d'esgrima de pau» de 1940 (documento não publicado)
Separata do seu livro (Com quem aprendi)
Cumpre-me em primeiro logar dizer que nunca inventei nada do que tenciono expor. Tudo aprendi com os meus mestres, que mais ou menos foram todos os jogadores bens do meo tempo, tanto profissionaes como não profissionaes. Nunca despresei lições de ninguém, nem mesmo de alguns, que em consciência sabia serem-me inferiores. Começando pelo principio, direi que menino e moço, tomei duas ou tres lições com o muito antigo professor do Real Gymnasio Club Portuguez, o sr. Pedro Augusto da Silva, mas nunca mais em tal pensei, até que um dia, ha talvez uns vinte e cinco annos, o então professor do mesmo Club, meu amigo e companheiro de diversas rapaziadas, Arthur dos Santos, não me recordo se após um almoço ou jantar, me disse: Ao que lhe respondi : Não será com lições de dez minutos, que me impedirás de continuar engordando. Se queres que eu jogue o páu, ensina-me as quatro primeiras series do teu jogo, e vou fazer de teu contra-mestre; deixa o resto por minha conta… E assim succedeu. Comecei a dár lições, e ao fim de pouco tempo, com a ajuda das lições, por favor mais longas, que o Arthur me dava no fim do curso, e com a minha excepcional vontade de trabalhar, adquiri pratica, que me permitia jogar com os melhores alumnus d’aquele tempo, sem receio d’um toque serio, porque dos pequenos não fazia caso. Quando me julguei suficientemente ensinado do que se fazia no Real Gymnasio, conversei com o meu primeiro mestre e amigo Arthur dos Santos, sobre as minhas tenções de ir experimentar outros ares, e eis-me á procura d’outros, que algumas cousas mais me podessem ensinar. Vi muito pouco antes de ir ao barracão do [Mestre: Domingos Salreu|mestre Salreu]], em diversos quintaes que visitei, e esse pouco que tive occasião de vèr, não me admirou, pois que era jogo mais ou menos semelhante ao que primeiro tinha aprendido. Mas veio um dia em que entrei no quintal do mestre Salreu, e da parte de fóra da janella do barracão estive vendo um assalto, como nunca julguei que que podesse haver. Que energia de pancadas, que certeza nas defesas, que cousa tão linda, certa e movimentada, em que logo percebi, que ali nada se perdia no ar, e que o terreno era disputado com toda a consciência. Escusado será dizer, que logo que o assalto terminou, eu estava da parte de dentro do barracão, para vêr os outros assaltos ou lições que se seguiram, e no dia seguinte eu era mais um discípulo do [Mestre: Domingos Salreu|mestre Salreu]]. Os jogadores que eu tanto admirei, quando da minha entrada, eram: De José Dias (por alcunha o 95), antigo contra-mestre do mestre Salreu, como preito de gratidão á sua memória, devo dizer, que soube ser um grande mestre e jogador, foi um homem d’ um caracter ultra honrado, generoso, activo trabalhador, e tão desinteressado para com os seus discípulos, que nunca deixou de bem os ensinar, mesmo quando não tinham dinheiro para lhe satisfazer a ridícula paga costumada, e era principalmente tão cheio de boa vontade no ensino, que punha tudo em pratos limpos, não lhes ocultando a mais insignificante parte do jogo. Tal era o excesso do seu desejo de ensinar, que por vezes, mais tarde quando já eu era também mestre, lhe notava que estava ensinando cousas para as quaes o discípulo não tinha ainda preparação, elle me respondia: Ensine você os seus como entender, porque os meus teem pouco dinheiro para gastar, mas olhe que os meus são tão bem conhecidos em toda a parte, que quem se chegar para elles, tem de saber o que faz. Pois este meu mestre e amigo, a quem tanto e tanto devo do pouco que sei do jogo, foi um dos discípulos prediletos do grande mestre Domingos Salreu, que também me deu (conforme os bilhetes de lições atestam) nada menos de meia grosa de lições, e isso ao principio, porque depois joguei inúmeras vezes em sua casa, tanto com elle, como com todos os outros aprendizes, sem nada pagar. Passavam-se os domingos inteirinhos em contínuos assaltos, e lições aos condiscípulos menos adeantados. Mas, conheci, tomei lições e joguei com outros mestres. Não me referirei a todos, não porque não fossem bons, mas porque não definem especialidades notáveis de jogo, sendo na sua maioria, discípulos d’aquelles que apresento n’esta minha modesta exposição. Mestre Baptista Abelheira, grande jogador, homem forte, mas de estatura regular, corajoso e elegante a jogar, era o tipo verdadeiro do jogador de praça. O seu jogo era sem duvida bom, muito movimentado e activo, mas sistema antigo, chamado de olho e pé, Na forma era semelhante ao que vi sempre fazer ao velho professor do Real Gymnasio Club Portuguez, o sr. Pedro Augusto da Silva. O mestre Pereira das Taipas, que jogou muitos annos n’um quintal da Rua das Taipas, também foi um jogador de grandes recursos, e um dos que teve de suportar maior numero de ataques. Homem muito modesto, alto, rijo, destemido, fazia um jogo pouco vistoso e pouco variado, mas de completa certeza em defesas e ataques. Não farei menção especial do jogo d’este homem, porque faz parte do que aprendi com os mestres Salreu e José Dias. Já disse do meu mestre José Dias o que tinha a dizer. Menos que cultivou excepcionaImente o sistema dos cortes e recortes, como talvez mesmo o seu mestre Salreu não tivesse feito nos seus tempos áureos, mas não posso também deixar de dizer, que Domingos Valente de Couras Salreu foi o jogador da elite, o homem mais completo, com mais vastos conhecimentos, sabendo-se cobrir como ninguém, cortando só quando era oportuno e sabendo fazer brilhar o seu adversario, quando isso lhe convinha ou apetecia. Nunca ninguém deixou de ficar satisfeito, quando acabasse de jogar com o mestre Salreu, mas posso afiançar que exceptuando alguns seus discípulos adiantados, ninguém percebia do que elle poderia fazer, se fosse um jogador vaidoso. Salreu que ainda vive, e vivo será por muitos annos, sendo como de facto é, um homem inteligente, explicava muito claramente, quando entendia o discípulo merecer-lhe essa honra, e eu tenho bastas razoes para lhe ser grato. N’este meu trabalho tentarei transmittir ao papel o que aprendi em conjunto com os meus principaes mestres, adaptando mas não especializando. Referirei pois o jogo que aprendi no Real Gymnasio Club Portuguez com o meu amigo e primeiro mestre Arthur dos Santos, e o que também aprendi com os outros meus mestres e amigos Domingos Valente de Couras Salreu e o falecido José Dias. |
Publicações onde é citado
« O primeiro ginásio a referir é o Real Gimnasio Club Portuguez (na Rua Serpa Pinto), que numa atribulada decisão da Direcção aceita abrir uma classe de Jogo do Pau, tendo por primeiro mestre Pedro Augusto da Silva, em 1890, que vem a ser sucedido, ao falecer em 1897, por Artur dos Santos, que foi mestre até 1923; seguiram-se Humberto Caldas, Claudio de Oliveira e António Lapa; após um interregno de prática, foi retomado por Frederico Hopffer (pai) e sucessivamente pelos filhos Frederico, Francisco e Julio; os últimos mestres foram Manuel Tabuada Gonzalez, Armando Sacadura, sendo actualmente (1990) a classe dirigida pelo Prof. Nuno Russo. (...) O Ateneu Comercial de Lisboa (...) o primeiro mestre foi João Capristano, tendo-lhe sucedido Izidoro Correia Gomes (...) seguindo-se os Mestres Jorge de Sousa (doze anos), António Lapa, Frederico Hopffer (pai). Domingos Miguel (inicialmente mestre na Cova da Piedade), Antonio Nunes Caçador (...)
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« (...) Como prova disto, o grande mestre que foi Frederico Hopffer, diz-nos: «Para mim não há espectáculo mais repugnante que dolo jovens companheiros e amigos, supondo que jogam o pau, atirarem mutuamente pauladas com quanta força têm, muito inconscientemente, ignorando que pode qualquer deles ficar seriamente aleijado». (...) de novo o Mestre Hopffer: «É praticado sem qualquer protecção especial, como sucede e é indispensável em outras esgrimas, e por isso aconselha aos jogadores mais prudência e generosidade para com adversários inferiores». (...) É justo citar o grande contributo dado pelos Hopffer, entusiastas desta modalidade, que criaram um estilo característico, introduzido no Ateneu pelo Mestre Pedro Ferreira.
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Em 1898, o Ginásio Clube Português iniciou o ensino em ginásios. Seguiu-se o Ateneu Comercial de Lisboa e, mais tarde, o Lisboa Ginásio Clube. Todavia, esta agremiação por pouco tempo o protegeu. Presentemente, deve-se aos dois primeiros clubes o não ter morrido esta modalidade portuguesa em Lisboa e, com ela, a técnica mais avançada, que pertenceu a mestre Frederico Hopffer, o qual nos legou um livro técnico sobre a modalidade, infelizmente esgotado.
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Mestre Frederico Hopffer (pai), deu lições no Ginásio Clube Português e Ateneu Comercial de Lisboa.
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«(...) Caçador principiou a jogar o pau em 1922 no Ateneu Comercial e o seu primeiro mestre foi Jorge de Sousa que, nos grandes tempos da esgrima lusitana, tinha sido discípulo do abalizado mestre Frederico Hopffer.»
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« (...) Ateneu Comercial de Lisboa onde no ensino do jogo do pau se salientaram Jorge de Sousa discípulo de Frederico Hopffer, Domingos Miguel e António Caçador. (...) Passando em revista os nomes dos jogadores e mestres famosos, mais uns que reza a tradição e outros que conhecemos contam-se (...) Francisco Calhariz, Frederico Hopffer - autor dum excelente compêndio da arte do manejo do pau (...)
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(...) A arma usada no jogo do pau é uma vara de lodão, de 1,50 m. de comprimento aproximado (posto aprumado no solo, a extremidade superior deve rasar a altura da boca do jogador), que se empunha, conforme as escolas, pelo mais grosso ou mais delgado. Nada existe sobre a história deste jogo em Portugal, cuja bibliografia se resume ao trabalho de Frederico Hopffer, O Jogo do Pau; conhecem-se, no entanto, três escolas: a do Norte (Minho e Trás-os-Montes), conhecida pelo nome de galega; a do Ribatejo, ou pataleira (de Pataios) e a de Lisboa. (...) |
GRANDIOSO JOGO DE PAU |
« Uma sessão de propaganda, organizada pelo mestre Frederico Hopffer, nos Bombeiros Voluntaríos do Dafundo. Na sala dos Bombeiros Voluntários do Dafundo realizou-se há dias, por iniciativa do mestre Frederico Hopffer, uma sessão de propaganda de jogo de pau, onde se procurou recordar os tempos saudosos em que a esgrima portuguesa estava no seu apogeu. A iniciativa partiu, como já dissemos, do mestre Hopffer, uma das maiores glórias da esgrima nacional, assistiram à sessão muitos amadores e recordamo-nos de ver os senhores: dr. José Maria Rangel de Sampaio, mestre Domingos Varejão com cinco discípulos, Frederico Hopffer e Júlio Hopffer, filhos do mestre Hopffer, eng. Mota e Sousa, António Montez e Mário Montez, mestres Ermelindo dos Santos e Frederico Paredes, António da Silva Monteiro, António Jalles, Inácio Roberto Guedes e Nunes Caçador, discípulos do mestre Domingos Miguel, e algumas senhoras. (...) Depois o mestre Hopffer, com quatro discípulos, expôs o seu método de ensino, regalando os amadores da bela esgrima durante alguns minutos. Clareza, experiência e profundo conhecimento do «metier», nos revelou o mestre Hopffer, e os seus rapazes, método, ordem e disciplina! Hopffer é, indiscutivelmente, um grande mestre, um profundo conhecedor da arte de José Maria da Silveira e um técnico de vasta competência. (...) Hopffer explicou as diferentes guardas de espera, depois as pancadas redondas, enviasadas e arrepiadas, por dentro e por fora, o rebate e a seguir as pontuadas. Passou depois a descrever os vira-costas, a seguir as guardas avançadas, ao rebate, às pancadas enviesadas, altas, e às pancadas baixas. Entrou depois nos sarilhos, de cima, de baixo, das mãos sobrepostas, sarilhos andando na circunferência, onde se joga, e, por último, nos sarilhos traçados da borda de água. E, à voz do mestre, os rapazes executavam, admiravelmente, o que ele ordenava; mostrando, duma maneira clara, que têm sido ensinados por homem que conhece a fundo a arte de jogar o pau! Hopffer passou depois para os «cortes», que tão eficazes são em combate, e explicou-os detalhadamente. Descreveu os cortes saídos, meio saídos, meio entrados, laterais, falou também nos cortes em que se volta ao mesmo terreno e nos antecipados. Os cortes, que parecem ter sido inventados pelos mestres Domingos Salreu ou Pereira das Taipas, constituem uma maneira hábil de responder a pancadas não aparadas. E, no final do seu trabalho, o mestre Hopffer ouviu uma prolongada salva de palmas. (...) Houve depois uma demonstração de assalto entre o mestre Hopffer e o seu filho Júlio, e que muito agradou. O mestre Frederico, apesar da sua idade, dominou nitidamente, fazendo uso da sua larga experiência e do profundo conhecimento que possui da esgrima portuguesa. (...) Por último o mestre Frederico Hopffer fez, uma demonstração com Inácio Guedes, que causou excelente impressão na assistência. Terminada a pequena festa, mestres, discípulos e convidados reuniram-se, tendo sido tiradas várias fotografias. (...) Quanto ao mestre Frederico Hopffer, deve ter ficado satisfeito, pois na reunião que êle preparou, viu-se rodeado de amigos, amigos verdadeiros e sinceros admiradores que foram à sala dos Bombeiros Voluntários do Dafundo para aplaudir o mestre abalizado, o técnico competente e o homem que, apesar da sua avançada idade, servindo-se da sua larga experiência e dos seus vastos conhecimentos, pode ainda ser um jogador!
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