Formas
«Formas», o que é?
No Jogo do Pau, como em muitas outras artes marciais, as "Formas" referem-se a sequências de movimentos codificados que simulam uma situação de combate, replicando ataques e defesas contra adversários imaginários. Estas sequências, que podem ser realizadas de forma individual ou em conjunto com outros praticantes, têm como objetivo aprimorar a técnica, a coordenação e a leitura espacial do praticante, preparando-o para enfrentar adversários em diferentes ângulos de ataque.
Cada Forma no Jogo do Pau reflete uma situação de combate específica, onde é essencial a adaptação dos movimentos a cada cenário, preservando o tempo e a aplicação correta de cada golpe e defesa. As Formas, assim como as suas variações, muitas vezes têm raízes regionais ou são adaptadas por diferentes mestres ao longo da história da arte.
Aqui estão incluídos os chamados «JOGOS DE CRUZ», «JOGO DOS VARRIMENTOS», «JOGOS DE QUADRADO», etc.
Importância das Formas no Treino
As Formas no Jogo do Pau não são apenas exercícios mecânicos. Elas servem como um meio de transmitir a tradição e a filosofia da arte, enquanto melhoram a técnica e a mentalidade do praticante. Cada Forma tem um propósito específico no desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas, permitindo que os praticantes adquiram a capacidade de reagir instintivamente a situações de combate real.
Além disso, as Formas ensinam disciplina, precisão e respeito pelos tempos e ritmos próprios da arte, reforçando os princípios do Jogo do Pau: proteção, defesa e controle do espaço.
A prática regular das Formas é essencial para qualquer praticante que aspire a dominar o Jogo do Pau, pois elas representam a essência da arte, passando pelos movimentos ancestrais que foram transmitidos de geração em geração pelos mestres e praticantes desta arte marcial portuguesa.
Jogo da Cruz
O Jogo da Cruz é uma das formas mais icónicas e desafiadoras do Jogo do Pau. Nesta forma, o praticante central é cercado por quatro adversários colocados nos vértices de uma cruz imaginária. O jogador no centro é desafiado a defender-se de múltiplos ataques simultâneos, realizando pancadas cruzadas e varrimentos para manter os adversários à distância. Segundo Mestre Caçador, este exercício exige grande rapidez, não só em termos de execução dos golpes, mas também na percepção do posicionamento dos atacantes. Segundo as suas palavras, para o Jogo da Cruz, são 4 homens, e mais um no meio, este, faz pancadas cruzadas e varrimentos, afim de afastar os seus atacantes. É fácil ver que o que está no meio tem que desenvolver uma grande rapidez; e diga-se, que não é coisa fácil; um jogador defender-se de 4; quando às vezes um chega para outro.[1]
Este treino é executado através de uma forma em cruz, sendo as pancadas executadas nos vértices dessa cruz e voltando sempre ao meio.
Para esta forma existem dois meios de o fazer:
- 1ª Forma: Pancada direta, em que o praticante se defende de ataques com golpes rápidos e diretos.
- 2ª Forma: Pancada saltada, que adiciona um elemento de complexidade, obrigando o praticante a combinar defesa e esquiva com movimentos mais amplos.
Embora o Jogo da Cruz seja tradicionalmente executado contra quatro adversários, também pode ser adaptado para simular uma defesa contra apenas dois, mantendo a essência da defesa contra múltiplos oponentes. Este tipo de treino enfatiza a capacidade de resposta rápida e eficaz, onde o praticante precisa de cobrir múltiplas direções de ataque, ao mesmo tempo que preserva o controlo central.
Para desgastar os adversários, conta Quintas Neves:
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O Manilha (...) manteve-se paulatinamente a cansar-lhes os braços com movimentos mais largos do jogo da cruz;
» |
Podemos ler ainda, em 1886, no livro a «Arte do Jogo do Pau» de Joaquim Ferreira:
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Varrimento de Cruz: Quando o inimigo me vier com uma pancada á cabeça ou da banda, devo retirar um passo e varrimento a retaguarda, vir à frente com o mesmo passo e varrimento para inimigo. E d'ahi devo vigiar passo e apanhar o varrimento pela minha frente à retaguarda
» |
Vídeos com Formas da Cruz
Segunda forma da Cruz do Meio (Lisboa) Treino Realizado no Ginásio Clube Português sob a direção do Mestre Nuno Russo |
Forma Cruz Rodada (a bater) - Criada pela Escola de Jogo do Pau de Messines/Silves Forma executadas com bengalas no Campeonato do Mundo de Ténis Escolar 03-04-1998 |
Forma Cruz da Roda Viracostas Saltados Forma criada pela Escola de Jogo do Pau de Messines/Silves. Executada pelo Mestre Mestre Hélder Valente, Túlio Martins, Ana Alves e Sara Ribeiro. Esta Forma de Roda, é constituída por Viracostas saltado pela direita (defensivo) e Viracostas saltado pela esquerda (ofensivo). |
Forma da Cruz Simples (Abadim) Forma da Cruz executada pela Escola do Mestre Portela em 1975. Fonte "O Povo e a Música - RTP" |
Jogo do Quadrado
O Jogo do Quadrado é outra forma tradicional que se diferencia pelo foco no espaço e na posição estratégica. Neste jogo, os praticantes trabalham em conjunto para proteger uma área delimitada por um quadrado imaginário, utilizando movimentos conhecidos como "vira-costas". Cada praticante ocupa uma posição nos vértices do quadrado, e a dinâmica do jogo exige que eles se movimentem de forma coordenada, substituindo-se uns aos outros nas posições, enquanto executam golpes e defesas.
O princípio fundamental do Jogo do Quadrado é não permitir que nenhum adversário invada o espaço central do quadrado, mantendo-o sempre protegido. Para isso, os jogadores realizam os "vira-costas" de forma precisa e ritmada, cobrindo todas as direções e antecipando as movimentações dos adversários.
Existem várias variações desta forma, dependendo da direção em que os "vira-costas" são realizados e das pancadas que são aplicadas em cada canto do quadrado:
- Pela direita,
- Pela esquerda,
- Pela esquerda com o vira costas inverso.[2]
A complexidade do Jogo do Quadrado aumenta conforme os praticantes progridem, exigindo uma sincronia perfeita entre os jogadores e uma adaptação rápida às situações de combate.
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Estando quatro companheiros ameaçados, devem fazer quadrado à distância de quatro passos uns dos outros; e quando vierem os inimigos por um dos lados, devem os dous retirar um passo à retaguarda e vir à frente para ter mão no inimigo; os outros dous devem ladear um pela direita e outro pela esquerda para cortarem a retaguarda aos inimigos e ficar o quadrado feito, devendo tambem vigiar um passo as costas uns dos outros, e marchar com dous passos salteados à frente. Igualmente hao-de vigiar meio passo para a direita ou para a esquerda e marchar com dous passos e varrimentos salteados para cortar o inimigo, e sempre vigiando as costas uns dos outros.» |
Jogo dos Varrimentos
Sem informação disponível até à data.
2021 - Treino Jogo do Pau com Professor António Lima Treino orientado pelo mestre António Lima na Capela de São Mamede de Janas em Sintra. |
Outras Formas
No Jogo do Pau, as "Formas" são sequências de movimentos codificados que simulam situações de combate. Embora existam formas tradicionais transmitidas ao longo de gerações, cada praticante tem a liberdade de criar as suas próprias sequências, adaptando os movimentos ao seu estilo, ritmo e interpretação do combate. Esta capacidade de inovação permite que os jogadores explorem novas maneiras de enfrentar adversários imaginários, expandindo o seu repertório técnico e expressando-se individualmente dentro da arte.
A criação de uma Forma individual é tanto um exercício de criatividade como de autodescoberta. Ao adaptar e combinar golpes, defesas e deslocamentos, o praticante não só refina a sua técnica, mas também desenvolve uma ligação mais profunda com o Jogo do Pau. Embora seja importante respeitar os princípios da arte, a liberdade de criar novas Formas promove a evolução contínua do Jogo do Pau, mantendo-o vivo e dinâmico.
Roda Cruzada - Escola Jogo do pau Portimão Forma criada por Marta Marcelino e Rute Sena para a Taça do mundo de Karaté Shotokan, em Faro, no ano de 1995. |
Referências
- ↑ CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau teórico, Lisboa: ed. Autor, 1943 (sobre o livro)
- ↑ SIMÕES, Rui Fernando Almeida, O Jogo do Pau em Portugal: processos de mudança, Universidade Nova de Lisboa, 1990, pp 84-85 (ver mais)