Mestre: José Rocha
Sobre
José Maria da Rocha, mais conhecido como "Senhor Rocha," nasceu a 19 de março de 1929 no lugar do Assento, freguesia de Cibões, em Terras de Bouro. Desde cedo, interessou-se pelo Jogo do Pau, aprendendo inicialmente com José Pelote em Santo António de Missões da Serra, e João Quinteiro de Bergaço[1].
Aos 14 anos, migrou para Lisboa, onde trabalhou inicialmente em pastelarias e depois como cozinheiro em diversos hotéis. Aos 23 anos, começou a praticar Jogo do Pau no Ateneu Comercial de Lisboa, onde teve aulas com o Mestre Domingos Miguel e o contramestre António Nunes Caçador, permanecendo na escola por 30 anos e participando em várias demonstrações públicas[2][3].
Após migrar para França por sete anos, regressou a Terras de Bouro em 1980 e, a convite do Presidente da Câmara, fundou uma escola de Jogo do Pau, que funcionou por oito anos. A escola foi encerrada devido a problemas de artroses que limitaram sua mobilidade, mas Rocha continuou a incentivar a juventude a valorizar as tradições[4].
Conhecimentos técnico
Mestres onde obteve conhecimentos técnicos do Jogo do Pau português:
- José Pelote (Santo António de Missões)
- João Quinteiro (Ateneu Comercial de Lisboa e "Centro do Jogo do Pau do Norte do País)
- Mestre Domingos Miguel (Ateneu Comercial de Lisboa)
Linhagem de Mestres (Link externo) | Toda a escola de Lisboa (Link externo) |
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Publicações onde é citado
«Nasceu em 19 de Março de 1929 em terras do Bouro, aprendeu a jogar no Ateneu Comercial com o mestre Domingos Miguel. Começou a jogar com 23 anos. Gosta muito deste desporto e por esta razão aprendeu com facilidade. Tem feito progressos, é rápido no ataque e na defesa, e com boas posições. Sabe aproveitar o seu alcance o qual é grande visto ter 1.85 mts. de altura. Se persistir neste desporto virá a ser um jogador de respeito. Tem participado em vários saraus onde se tem feito aplaudir.» |
« José Maria da Rocha, mais conhecido pelo senhor Rocha foi um exímio jogador do pau. Este terrabourense nasceu em 19 de Março de 1929 no lugar do Assento na Freguesia de Cibões. Com apenas 9 anos de idade foi servir como moço de lavoura para a freguesia de Santa Isabel do Monte onde lhe pagavam um salário anual de 300$00. Com 13 anos vai trabalhar para a casa do Feixa, em Vilarinho da Furna, e vê o seu salário anual aumentado para o dobro. Em Vilarinho, as suas principais tarefas eram regar os campos de milho e guardar as cabras na serra. Aos 14 anos decidiu encontrar melhor sorte em Lisboa. Na capital, começou como ajudante de cozinha numa pastelaria de fabrico para revenda. Mais tarde foi trabalhar para a pastelaria Áurea, na rua do Ouro, e a seguir trabalhou na pastelaria Marques na Avenida Almeida Garrett. Foi com colegas seus da cozinha que aprendeu a assinar o seu nome porque na sua infância não havia escola. Inicia a sua actividade de cozinheiro propriamente dita no Hotel Florida onde permanece até a ida para a tropa. Cumpre o serviço militar na Base Aérea nº1 de Sintra e volta ao Hotel Florida. Volvidos três anos, muda para o Hotel Espadarte em Sesimbra e mais tarde para o Hotel Turismo da Ericeira. Esta itinerância nunca se deveu ao facto de não gostar de trabalhar nestes locais ou de ser preguiçoso, mas à procura de melhor salário. Foi somente em 1951 que obteve os seus primeiros oito dias de férias. O senhor Rocha trabalhou como cozinheiro ainda noutros locais e chegou a viver a aventura da emigração em França durante cerca de sete anos. Hoje, na reforma ajuda e apoia a sua esposa que devido a um glaucoma praticamente se encontra cega. O senhor Rocha confidenciou à reportagem do “Geresão” que a reforma de França, com descontos apenas de sete anos, é bem maior do que a reforma portuguesa. “Após 38 anos de trabalho na indústria hoteleira, a pensão de França é mais do dobro que a pensão da hotelaria”. Afirma com tristeza que “a freguesia de Cibões está envelhecida, as casas dos lavradores estão vazias, as alfaias agrícolas estão paradas e os campos ao abandono. Dantes era gente por todo o lado, agora é uma miséria.” No entanto, considera que há actualmente aspectos positivos “porque temos luz, telefone e estradas.” Insiste em comparar o passado com o presente: “Dantes era tudo cheio de gente. Agora, toda a gente foge. A lavoura não dá quase nada. Uma profissão que vai dando ainda é a de cozinheiro, mas tem que se fugir daqui.” Foi em Santo António de Missões da Serra que o senhor Rocha aprendeu a jogar o pau com José Pelote e também com o João Quinteiro de Bergaço. Queixa-se da falta de reconhecimento. “Nunca foi feita uma homenagem a qualquer um dos jogadores de pau do nosso concelho e nunca nos deram a conhecer. O João Quinteiro foi para mim o maior jogador do nosso País.” Em Lisboa, na década de 50 o senhor Rocha inscreveu-se no Ateneu Comercial tendo recebido aulas do mestre Domingos Miguel e do contramestre António Antunes Caçador. Frequentou esta escola durante 30 anos. Fez demonstrações no Estádio da Luz, nas festas de Vila Franca de Xira no Pavilhão dos Desportos, e em muitos outros locais. Actualmente ainda recebe inúmeros convites para fazer demonstrações, mas as pernas já não o ajudam. O senhor Rocha fez questão de mostrar à reportagem do “Geresão” a sua infindável colecção de varas. São às dezenas. Há varas para todos os gostos. Umas são de lodo, outras de junco e outras de marmeleiro. Parte delas foram feitas pelas suas mãos. “A protecção de metal que as varas têm nos extremos são para não esgaçarem”, explicou o senhor Rocha. No que concerne ao jogo do pau esclarece que “isto não é um jogo de pau, mas esgrima do pau nacional que já vem do tempo do rei D. Carlos (finais do século XIX e princípios do século XX).” Foi há 26 anos atrás que criou, na vila de Terras de Bouro, a convite do Presidente da Câmara Municipal, José Araújo, a escola do jogo do pau que veio a funcionar regularmente durante oito anos. Esta escola terminou, apesar do número sempre elevado de alunos, devido ao problema de artroses que começaram a limitar a sua mobilidade. “Porque as voltas que o pau dá por cima no ar, as pernas têm que dar as mesmas voltas por baixo.” As pernas mataram-lhe outra das suas grandes paixões: a caça porque não lhe permitem longas caminhadas pelos montes de Cibões. “Foram oito anos de professor”, recorda com saudade. Mobilizou muitos jovens terrabourenses para a prática do jogo do pau. No nosso concelho e noutros locais, o senhor Rocha e os seus pupilos fizeram inúmeras exibições. Recorda-se com carinho de todos os seus alunos e destaca o Luís da Souta e o Álvaro do Pereirinha que eram jovens muito empenhados e assíduos. Jogou o pau com indivíduos de Espinho, Melgaço, Sesimbra e de outras localidades do nosso País e foram muitos os episódios caricatos. Uma vez jogou o pau com um indivíduo chamado Adelino Barroso na vila de Terras de Bouro. Foi num dia de feira, na “Leira do Sousa”, por debaixo da Escola Padre Martins Capela depois desse indivíduo o ter desafiado. O Adelino Barroso atirou-se muito impetuoso e o senhor Rocha foi desviando o seu corpo das varadas. Deixou-o entusiasmar-se e o resultado “foi ter rachado a cabeça ao Adelino Barroso com uma boa varada”. Uma outra vez estava a jogar o pau com um indivíduo que lhe atirou uma varada, conseguiu desviar-se, mas o outro jogador cortou-lhe o cinto com a pancada. Muitas vezes chegou a estar cercado por quatro ou cinco homens, mas defendeu-se sempre “porque as pernas ajudavam”. O senhor Rocha aconselha a nossa juventude a valorizar o que é tradicional e aprender o jogo do pau. “O jogo do pau faz parte da nossa tradição e pode ser usado em legítima defesa. Mas, hoje, não há quem queira aprender a tocar cavaquinho, por exemplo, ou aprender outra coisa qualquer. O que é tradicional, infelizmente, vai morrendo aos poucos.”
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Galeria de imagens
Vídeos
Entrevistas feitas por Pedro Silva e Hélder Gandra em maio e junho 2017 e publicado no canal Youtube Canal História do Jogo do Pau - History
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 1 A Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 4 A Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 5 A Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 6 A Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 7 A Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 1 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 2 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 3 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 4 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 5 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 6 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 7 Entrevista feita em julho de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 8 Entrevista feita em maio de 2017 |
2017 José Rocha no "Canal História do Jogo do Pau - History" - Ep. 9 Entrevista feita em julho de 2017 |
Ver também
Links externos
Referências
- ↑ Artigo em O Geresão, "O tradicional vai morrendo aos poucos", 20 de Janeiro de 2006.
- ↑ CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963, pág.74.
- ↑ Artigo em O Geresão, "O tradicional vai morrendo aos poucos", 20 de Janeiro de 2006.
- ↑ Artigo em O Geresão, "O tradicional vai morrendo aos poucos", 20 de Janeiro de 2006.