Estilo de Jogo: Terceira (Açores)
Sobre
O Jogo do Pau na Ilha Terceira é uma prática enraizada na história da ilha, evoluindo de forma peculiar a partir do jogo do pau praticado em Portugal continental" e Brasil. Atualmente, apenas o Jogo do Pau da Ilha é praticado, pois os outros dois tipos de combate desapareceram ao longo do tempo.
Antigamente, era ensinado e praticado de forma discreta, transmitido pelos mais velhos aos mais novos em locais isolados, longe do olhar público. Alguns praticantes preferiam manter em segredo as suas habilidades no jogo, para não serem associados à "justiça da noite", da qual muitos jogadores faziam parte.
Um marco importante para a preservação do conhecimento sobre o Jogo do Pau na Ilha Terceira foi o livro "O Jogo do Pau na Ilha Terceira", publicado em 1992 por Paulo Melo. Esta obra imortalizou diversas histórias e tradições associadas ao jogo, sendo considerada uma fonte valiosa para compreender mais profundamente essa prática na ilha.
Além disso, o Jogo de Pau é uma tradição que remonta aos tempos do povoamento das ilhas, sendo documentado desde o século XVI. Mesmo com a modernização, o uso do bordão, elemento central do jogo, nunca foi totalmente perdido, mantendo-se presente no meio rural da ilha. O jogo era praticado em recintos apertados ou abertos, adaptando-se facilmente a diferentes ambientes.
Na Ilha Terceira, existem três tipos de jogos de pau: o do Continente, da Ilha e do Brasil. O jogo da Ilha evoluiu localmente, absorvendo influências dos outros dois tipos de jogo. Há uma crença de que o jogo da Ilha é uma fusão dos dois anteriores. Segundo o mestre José Dias antigamente só havia o jogo do Continente de "uma ponta", só mais tarde começou a aparecer o jogo de "duas pontas".
A prática do Jogo do Pau na Ilha Terceira foi revitalizada através da Associação do Jogo do Pau da Ilha Terceira, fundada em 23 de outubro de 1997, com o objetivo de preservar e promover essa tradição ancestral. Inicialmente, diversas Escolas da ilha estavam associadas à Associação, nomeadamente nas freguesias do Cabo da Praia, Quatro Ribeiras, Agualva, Pico da Urze e Praia da Vitória, contudo, ao longo do tempo, apenas a região de Quatro Ribeiras permaneceu ativa.
Caracterização
Uma das particularidades deste jogo é conseguir-se entrar dentro da área do oponente e com o bordão bem seguro pelas duas mãos (Chamado jogo de duas pontas) desferir golpes que geralmente só os mais entendidos tem a capacidade de anular. Outra característica são as entradas e saidas com saltos em rotação, e com o bordão em rodopio, que geralmente dão ao combate uma amplitude muito maior.
É um Jogo feito com apenas uma ou as duas mãos juntas, sendo este tipo de Jogo chamado de uma ponta, pois executa-se as técnicas pegando-se exactamente na ponta mais grossa do bordão, ou empregar o bordão com as duas mãos, chamado Jogo de duas pontas. Se o primeiro tipo de jogo dá alguma segurança dado que ao jogar existe uma distância grande entre o nosso adversário, no segundo a distância é curta, requerendo mais habilidade e perspicácia para manter-se um bom jogo. Outra característica própia deste Jogo é a pega do bordão ser sempre feita na parte mais grossa, ao invés do jogo do Continente que gosta de fazer a pega na parte mais fina.
Escolas onde se pratica
- Escola de Jogo do Pau da Ilha da Terceira - Quatro Ribeiras
- Escola de Jogo do Pau da Ilha da Terceira - Angra do Heroísmo (inativa)
- Escola de Jogo do Pau da Ilha da Terceira - Praia (inativa)
Tipos de Jogos
- Pancada à cabeça
- Pancada à cabeça com apanha do bordão
- Pancada debaixo para cima
- Pancada abafada
- Pontalete
- Jogo do ar
- Entrada de cara
- Entrada de cara com apanha do bordão
- Entrada de cara tanto apanha como tira o bordão
- Jogo de romper
- Jogo de tirar o bordão
- Jogo de tirar o chapéu
- Rossadas
Contexto Histórico
O texto abaixo apresentado, é um resumo do trabalho de pesquisa feito por Paulo de Melo, e publicado no seu livro O Jogo do Pau na Ilha Terceira (Contribuição para a sua história). Texto escrito por autor anónimo e dado pelo Mestre Marco Martins da Escola de Jogo do Pau da Ilha da Terceira - Quatro Ribeiras. Pode ver o documento original aqui.
«O Jogo de Pau faz parte integrante da história dende o povoamento das nossas ilhas, encontrando-se documentado em escritos que recuam ao século XVI. Não precisamos de ir muito longe para vermos ainda no nosso meio rural, em que a mecanização tomou as proporções que conhecemos, que o uso de bordão nunca se perdeu. O bordão e o cão que segundo os mais idóneos nunca perdem uma oportunidade de o dizer o "melhor amigo do homem" teve múltiplas funções e não deixou de acompanhar a evolução dos tempos embora se tenha de reconhecer que hoje é menos indispensável para trabalho. Quem for atento verifica que dentro de uma carrinha frequentemente usada por lavradonas na nossa ilha estão as bilhas do leite, o cão e no fundo da caixa está o bordão. Do mesmo modo não há quem dele faça uso que não tenha algo a dizer sobre o Jogo do Pau, que conhece alguém que já jogou, um antepassado seu que tenha sido bom jogador ou então uma historia antiga conhecida por muitos locais. Três foram os tipos de jogo usados na Ilha Terceira, o jogo do Continente, da Ilha e o jogo do Brasil. O jogo do continente terá vindo como os primeiros colonizadores e é o jogo que se pratica ainda hoje em dia no continente. O jogo da Ilha terá evoluido por seus próprios meios na Ilha Terceira tendo como ponto de partida o jogo do continente ou seja em muito semelhante a este e posteriormente também terá absorvido partes do que chamavam o jogo o brasil. É crença de muitos jogadores que o jogo da Ilha é uma fusão dos dois jogos. É também um facto que é mais fácil um jogador da Ilha adaptar-se ao jogo do continente do que este ao da Ilha. Como particularmente é de referir que se consegue praticar o Jogo da Ilha, tanto em recintos apertados como abertos ao passo que com os outros dois jogos já não é tão fácil.
Quanto ao jogo do Brasil, introduzido na Ilha Terceira por emigrantes vindos do Brasil, já não se pratica na nossa ilha restando dele apenas histórias antigas e espectaculares ao ponto de nos perguntarmos se não havia uma mistura de "capoeira". Num ponto concordam todos os contadores de histórias antigas, era um tipo de jogo mais violento e agressivo.
O treino do Jogo do Pau era para alguns populares uma forma de passar principalmente no fim de semana, mas teve sempre o seu carácter secreto ou seja não se praticava em público e apenas com o consentimento do grupo se poderia assistir à sua realização, nas eiras e nas abertas das matas quando os pastores se encontravam na ida ou no regresso da sua "lida" quotidiana.
Nas décadas de 30 até aos principios de 60, o Jogo do Pau teve a sua expressão máxima, não havia homem nesta Ilha que não usasse o seu bordão, sendo mesmo corrente o uso de um bordão vistoso e conteirado em dias especiais. Por esta altura surgiu um grupo a tentar fazer a justiça popular formando então o que denominavam a "justiça da noite". Alguns desses elementos tiveram problemas com as autoridades, na altura a então PIDE. Não se sabe ao certo se é por causa disso que o Jogo do Pau cai no esquecimento até aos nossos dias.
Num passado mais recente houve grandes jogadores e grandes mestres Jogo do Pau tais como, Félix Bezerrinha, João Alves (José Alves Fanico) José Bezerrinha, Luís Narciso, José Joaquim Sales (José Gereza), tio Olímpio, Serafim Gamaleão, Francisco Borges entre outros e foi quando foram falecendo ou quando a saúde e a integridade física foi faltando, que o Jogo do Pau foi caindo no esquecimento, até que se formou uma Associação do Jogo do Pau da Ilha Terceira, e se começou a sensibilizar alguns Jovens para a prática deste Jogo, formando escolas do Jogo do Pau nas freguesias do Cabo da Praia, Quatro Ribeiras, Agualva, Pico da Urze e Praia da Vitória, dando continuidade ao Jogo do Pau e não deixando morrer uma peça importante da história e da cultura da nossa terra e do nosso Povo.»
Outros estilos de Jogo
- Fafe
- Cabeceiras
- Espinheiro
- Guarda
- Estilo de Jogo: Lisboa (Ateneu)
- Lisboa (Esgrima Lusitana)
- Algarve
- Ribatejo