Escola do Ribatejo

Fonte: Jogo do Pau Português

Sobre

Pouco se sabe da Escola Ribatejana. O registo escrito mais antigo, leva-nos para o início do século XIX, quando o Mestre José Arroteia (o «Gigante do Souto») participava como Maioral de ranchos que levaram às terras da Borda d’Água jornaleiros e pescadores das bandas do Lis e do mar da Vieira. Dada a grande fama de jogador de pau, foi convidado pelo fidalgo Luis da Silva Ataíde para dar lições ao Rei D. Miguel, em Salvaterra. Após as invasões francesas e após o regresso do monarca do Brasil, entre 1831-1834, deu-se a Guerra Civil Portuguesa, e para sua defesa pessoal e da sua própria guarda, contratou os serviços deste mestre.

Este tipo de jogo era feito com as duas mãos, com pancadas violentas, possivelmente idêntico ao jogo minhoto. Contudo, no final do século XIX, já com as influências do Jogo de Lisboa, este começou-se a jogar a uma mão. Temos o relato da existência de dois mestres na zona Golegã, José António Marvila que jogava com as duas mãos, e [Carlos Relvas]], que utilizava apenas uma mão, como se tratasse de esgrima de florete. Comentava-se, na Colegã, nesse tempo que Marvila representava o sistema antigo, e Relvas o moderno.[1]

Hoje, apenas existe uma escola no Ribatejo, a Escola de Espinheiro, localizada na aldeia de Espinheiro, em Alcanena, que possui um estilo e tipo de jogo único no país, que difere muito da antiga prática no Ribatejo.

Estilos desta Escola

Embora o estilo de Jogo seja muito idêntico, a sua metodologia de ensino ou tipo de Jogo varia um pouco, havendo os estilos:

Publicações onde a «Escola» é citada

  • Em 1915:

« Em Portugal houve sempre duas escolas de jogo do páo. A primeira pertencem os homens do norte, os dentro Douro e Minho e os das Beiras. A segunda os ribatejanos. No alentejo e Algarve não é cultivado o jogo do páo. (...)

A segunda escola é o jogo de uma mão só e de "aproveitar".

(...) O ribatejano, quando joga, não sai da guarda, não floreia, atira com uma mão só - que tem a vantagem de ser o seu golpe de maior alcance - e de preferência à cabeça. Não perde tempo em mostrar habilidade, procura pôr fora de combate o mais depressa possível o seu contendor. A escola ribatejana só tem um golpe a duas mãos, a "pontuada". »
Artigo da revista ilustrada «O Malho» de 1915 (ver mais)

  • Em 1943:

« A do Norte ou a minhota, a do Ribatejo, vulgarmente conhecida por Pataieira, de Pataias, e a de Lisboa. (...)

Quanto à Escola do Ribatejo, é interessante; neste jogo o pau é, quási sempre, manejado com os dois braços o que dá uma certa violência à pancada, mas faz com que o jogador fique com os movimentos um pouco presos.

No jogo do Ribatejo não aparecem os cortes, as «passagens» são executadas com menos perícia que no jogo da capital e os sarilhos são também diferentes.

A base deste jogo é a escola do mestre António Pereira Penela que Carlos Relvas, pai do antigo ministro Dr. José Relvara levou para as suas propriedades da Golegã, afim de com ele aprender a jogar o pau. (...)

Carlos Relvas foi, por sua vez professor de José Ferreira Ruivo, na «Borda d'Água», mestre de grande classe e que nasceu em 1846 e faleceu a 18 de Agosto de 1918.

José Ruivo deu, na «Borda d'Água» um notável incremento à esgrima de pau, e o seu nome e o do seu mestre, ainda hoje são recordados com saudade em muitas terras do Ribatejo.

Comparado ao de Lisboa, dá mais vantagem ao jogador quando ele pretende fazer frente a mais do que um adversário; porém, de homem para homem, é, como o jogo do Ribatejo, batido pelo da capital. »
Artigo em «Novidades» de 1943 (ver mais)

  • Em 1949:

« (...) conhecem-se, no entanto, três escolas: a do Norte (Minho e Trás-os-Montes), conhecida pelo nome de galega; a do Ribatejo, ou pataleira (de Pataios) e a de Lisboa.

(...) a escola ribatejana é muito aparatosa, mas perigosa, pois os adversários se batem a muito curta distância. »
Livro «Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira» de 1949 (ver mais)

  • Em 1952

« (...) três escolas: a do Norte, que inclui a Galiza onde este jogo é muito popular, a do Ribatejo, onde o combate privilegiado é o da curta distância levando por isso os praticantes a correrem mais riscos, mas aumentando com muito a espectacularidade do jogo, e, por fim, a de Lisboa, onde a segurança é total já que existe um sistema e uma organização defensiva, extremamente rigorosa. »
Artigo do jornal «O Século Ilustrado» de 1952 (ver mais)

Em 1984

« Há três escolas que orientam o modo de jogar:

2. Escola ribatejana — caracteriza-se pela luta a curta distância. Utilizam frequentemente os cortes —golpes do varapau lançado com força para deter a pancada do adversário —, as paradas e as pancadas arrepiadas —, golpes lançados de baixo para cima. Também é conhecida por «escola de pateleira». »
Artigo do jornal «Viva Voz» de março 1984(ver mais)

Outros tipos de Escolas

Referências

  1. Artigo em «O Século Ilustrado» de 1952 (ver mais)