Anónimo

Mestre: José Maria da Silveira: diferenças entre revisões

Fonte: Jogo do Pau Português
 
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Mestre [[Artur dos Santos]] (...) Seus Mestres foram, [[Pedro Augusto da Silva]], [[Joaquim Baú]] e [[Mestre: José Maria da Silveira|José Maria da Silveira]], (...)
Mestre [[Artur dos Santos]] (...) Seus Mestres foram, [[Pedro Augusto da Silva]], [[Joaquim Baú]] e [[Mestre: José Maria da Silveira|José Maria da Silveira]], (...)
(...)
TIPOS DE LISBOA - O José Maria Saloio
O Ze Maria Saloio, deixou história na Lisboa de há cem anos. Lisboeta da gema pois nasceu no bairro da Graça, ninguém, na sua época, o excedeu no jogo do pau.
Estudava latim e música, e foi cabo de coristas do Real Teatro de S. Carlos. Os biógrafos do seu tempo descrevem o nosso heroi como
um verdadeiro Hércules, o busto lembrando o de um atleta, pulsos enormes e braços de bronze. De dia, ensinava o jogo do pau então em moda;
à noite exercia funções mais suaves, chefiando as artistas do nosso teatro lirico. Duas profissões antagónicas...
Tinha umas barbas compridas e, quando o Conde Farrobo foi empresário do S. Carlos e mandou que todos os coristas rapassem as barbas, José Maria não as cortou. Foi suspenso primeiro por quinze dias, depois por um mês e o Conde, que o conhecia, mandeu-o chamar, dizendo:
O Zé Maria, se os papeis fossem invertidos e você estivesse no meu lugar o que é que fazia, vendo que a ordem não era respeitada?...
Punha-o na rua, respondeu o Ze Maria. É o que mandava a disciplina. Eu fui soldado Senhor Conde. Já vejo que estou despedido. Às ordens de V. Ex.
Dizem que Farrobo achou-lhe graça e, generoso como era, pagou-lhe os ordenados do tempo em que estivera suspenso.
A fidalguia do século passado, em especial a boémia, de que era vedeta o Marquês de Niza, aprendeu com ele o manejo do pau.
Era pitoresco e valente. Durante as lutas de D. Pedro e D. Miguel seguia a facção liberal, o que lhe valeu a prisão.
Nesse tempo, havia um botequim no Chiado, onde trabalhava um empregado, miguelista ferrenho. Uma vez, o Ze Maria entrou ali e deu
as boas noites. O caixeiro, que não o podia ver não lhe respondeu. E Não conheço malhados!
logo ele: Você é surdo? Não ouviu dar-lhe as boas noites?
- E eu não conheco burros replicou sem demora o jogador do pau.
O caixeiro com prosápias de valentão, agarrou num mocho mas a bengala do Zé Maria chegou primeiro à cabeça do miguelista que ficou cheio de sangue.
Zé Maria foi preso e no tribunal passou-se esta cena altamente pitoresca:
O Juiz - Porque é que você quebrou a cabeça ao caixeiro?
O Réu - Porque sou cristão!
O Juiz - Ora essa!? Então, você entende que quebrar a cabeça a alguém é uma obra de caridade?
O Réu - Eu explico Snr. Juiz. A desordem foi numa sexta-feira dia de jejum, dia de peixe, e esse homem disse-me que eu havia de engolir um mocho. Ora sendo um môcho, carne, eu não podia consentir numa ofensa à minha religião e parti-lhe a cabeça...
O auditório riu a bom rir e o juiz deu por expiado o delito com a prisão já sofrida pelo Zé Maria.
De outra vez, um mestre de coros italiano, insultou-o no palco em termos baixos, o cabo das coristas. Um dia, o Saloio tomava o seu conhaque no Tavares e o mestre italiano teve a triste ideia de lá entrar e sentar-se e logo o Zé Maria disse ao criado: Leve, da minha parte, um capilé aquele senhor...
Sete vezes o criado executou a mesma ordem e o maestro tremia ao ver o olhar feroz do cabo das coristas. Por fim, este já condoido da
vítima, acercou-se dele, e disse-lhe calmamente:
Para a outra vez, cuidado com a lingua senão duplico-lhe a dose.
E deu-lhe um aperto de mão...
Era assim o patusco do Zé Maria Saloio
I. R.
(Extraido do Diário Popular do dia 16 de Novembro de 1957)
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<small>CAÇADOR, António Nunes, ''Jogo do Pau: esgrima nacional'', Lisboa: ed. Autor, 1963 ([[Livro: Jogo do Pau: esgrima nacional|sobre o livro]])</small>
<small>CAÇADOR, António Nunes, ''Jogo do Pau: esgrima nacional'', Lisboa: ed. Autor, 1963 ([[Livro: Jogo do Pau: esgrima nacional|sobre o livro]])</small>

Edição atual desde as 10h58min de 27 de março de 2025

Outros nomes O Saloio
Nascimento 1800
Morte 1883
Nacionalidade Portuguesa
Naturalidade Lisboa
Escola Lisboa
Locais Quintais

Sobre

Mestre José Maria da Silveira conhecido como «O Saloio» nasceu em 1800[1] na Calçada da Graça n.º 13 em Lisboa, e faleceu com 83 anos em setembro de 1883[2].
A alcunha do Saloio fora motivada pelas cores rosadas do rosto, que lhe dava um aspeto rústico que contratava dos rostos citadinos. Era de constituição física alta, forte e de grande agilidade, segundo o livro do Mestre Caçador, chegava a fazer catorze retaguardas seguidas, isto é, catorze voltas sobre si, acompanhando o rápido giro do pau.[3]

Segundo Zacarias d'AÇA[4], aos dezasseis anos (em 1816), já dava lições - já era mestre! Os seus professores foram os mais dextros que então havia em Lisboa, um deles era galego. Dr. José Pontes, comentando o artigo de Zacarias d'Aça reforça ainda que «aprendeu a jogar o pau com dois mestres, um galego, outro minhoto, cujos os nomes depressa esqueceram.»[5] (desconhecemos a fonte de Pontes enquanto ao Mestre Minhoto).

Aplicou a este jogo alguns movimentos da esgrima de sabre e florete, onde estudou e modificou. Fazendo assim, um estilo próprio, caracterizando-o como «esgrima nacional».

Deu lições na Rua Nova do Loureiro e num quintal da sua casa, no Largo dos Inglesinhos perto da igreja dos Caetanos, em Lisboa.

De todos os alunos que teve, o que deu continuidade do seu trabalho e ensino foi o Mestre Pedro Augusto da Silva.

Ficou também conhecido por ter ensinado Jogo do Pau ao Rei D. Carlos, que era um entusiasta e um praticante dedicado.

Conhecimentos técnico

Mestres onde obteve conhecimentos técnicos do Jogo do Pau português:

  • Mestre desconhecido (galego)
  • Mestre desconhecido
Linhagem de Mestres (Link externo) Toda a escola de Lisboa (Link externo)

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Jogadores contemporâneos

  • Tomás Jorge
  • José Maria Cristiano
  • Manuel Machado

Publicações onde é citado

« (...) Carlos Relvas (...) contratou vários mestres, provinientes de diversos pontos do país (...)

Estes mestres, entre outros, terão sido o próprio José Maria da Silveira, Domingos Valente de Couras (Salréu), António Pereira Penela (1838-1908), e Joaquim Baú (contemporaneo do "Saloio), de Marco de Canavezes, mestre itenerante e que vivia do pagamento das lições dadas pelo pais. O que testemunha uma influência directa da técnica de Lisboa em alguns dos jogadores e posteriores mestres do Ribatejo. »
Artigo «O Jogo do Pau em Portugal: processos de mudança, Universidade Nova de Lisboa» 1990 (ver mais)

«Primeiro dos grandes mestres da esgrima do pau , é a ele a quem se deve o primeiro desenvolvimentos neste ramo de desporto, não obstante ter havido outros mestres no seu tempo, deixou bons esgrimistas, como Domingos de Couras Salréu e Pedro Augusto da Silva que vieram a ser representantes da sua Escola, que foi na Travessa dos Inglesinhos e na Rua nova do Loureiro.

Fundador da Escola de Lisboa, que assim se chama, por ser um tipo de esgrima diferente do das províncias, o qual nós ainda hoje adoptamos, possivelmente aperfeiçoado.

Em menino foi cantor de igreja e mais tarde praticou o jogo do pau.

Tinha à sua porta uma pedra muito grande e pesada com que media forças com a rapaziada do seu tempo. Deixou uma fama monumental como esgrimista do pau e foi mestre do nosso popularissimo e grande Rei D. Carlos.

Nasceu na Calçada da Graça nº 13 em Lisboa, no ano de 1805 e faleceu, com a idade de 83, em 1888. [Nasceu em 1800 e faleceu com 83 anos em 1883]

(...)

José Maria da Silveira, deu lições na Rua Nova do Loureiro e Largo dos Inglesinhos (última escola), em Lisboa.

(...)

Mestre Joaquim Baú (...) contemporâneo do mestre José Maria da Silveira (O Saloio)

(...)

Nas suas vastas propriedades (de Carlos Relvas) na Golega estiveram os mestres: José Maria da Silveira, António Pereira Penela, Joaquim Baú, José Florêncio (de Tagarro) e ainda outros, sendo com estes mestres que Carlos Relvas adquiriu grandes conhecimentos da esgrima do pau.

(...)

Mestre Artur dos Santos (...) Seus Mestres foram, Pedro Augusto da Silva, Joaquim Baú e José Maria da Silveira, (...)

(...)

TIPOS DE LISBOA - O José Maria Saloio

O Ze Maria Saloio, deixou história na Lisboa de há cem anos. Lisboeta da gema pois nasceu no bairro da Graça, ninguém, na sua época, o excedeu no jogo do pau.

Estudava latim e música, e foi cabo de coristas do Real Teatro de S. Carlos. Os biógrafos do seu tempo descrevem o nosso heroi como um verdadeiro Hércules, o busto lembrando o de um atleta, pulsos enormes e braços de bronze. De dia, ensinava o jogo do pau então em moda; à noite exercia funções mais suaves, chefiando as artistas do nosso teatro lirico. Duas profissões antagónicas...

Tinha umas barbas compridas e, quando o Conde Farrobo foi empresário do S. Carlos e mandou que todos os coristas rapassem as barbas, José Maria não as cortou. Foi suspenso primeiro por quinze dias, depois por um mês e o Conde, que o conhecia, mandeu-o chamar, dizendo: O Zé Maria, se os papeis fossem invertidos e você estivesse no meu lugar o que é que fazia, vendo que a ordem não era respeitada?... Punha-o na rua, respondeu o Ze Maria. É o que mandava a disciplina. Eu fui soldado Senhor Conde. Já vejo que estou despedido. Às ordens de V. Ex.

Dizem que Farrobo achou-lhe graça e, generoso como era, pagou-lhe os ordenados do tempo em que estivera suspenso.

A fidalguia do século passado, em especial a boémia, de que era vedeta o Marquês de Niza, aprendeu com ele o manejo do pau.

Era pitoresco e valente. Durante as lutas de D. Pedro e D. Miguel seguia a facção liberal, o que lhe valeu a prisão.

Nesse tempo, havia um botequim no Chiado, onde trabalhava um empregado, miguelista ferrenho. Uma vez, o Ze Maria entrou ali e deu as boas noites. O caixeiro, que não o podia ver não lhe respondeu. E Não conheço malhados!

logo ele: Você é surdo? Não ouviu dar-lhe as boas noites?

- E eu não conheco burros replicou sem demora o jogador do pau.

O caixeiro com prosápias de valentão, agarrou num mocho mas a bengala do Zé Maria chegou primeiro à cabeça do miguelista que ficou cheio de sangue.

Zé Maria foi preso e no tribunal passou-se esta cena altamente pitoresca:

O Juiz - Porque é que você quebrou a cabeça ao caixeiro?

O Réu - Porque sou cristão!

O Juiz - Ora essa!? Então, você entende que quebrar a cabeça a alguém é uma obra de caridade?

O Réu - Eu explico Snr. Juiz. A desordem foi numa sexta-feira dia de jejum, dia de peixe, e esse homem disse-me que eu havia de engolir um mocho. Ora sendo um môcho, carne, eu não podia consentir numa ofensa à minha religião e parti-lhe a cabeça...

O auditório riu a bom rir e o juiz deu por expiado o delito com a prisão já sofrida pelo Zé Maria.

De outra vez, um mestre de coros italiano, insultou-o no palco em termos baixos, o cabo das coristas. Um dia, o Saloio tomava o seu conhaque no Tavares e o mestre italiano teve a triste ideia de lá entrar e sentar-se e logo o Zé Maria disse ao criado: Leve, da minha parte, um capilé aquele senhor...

Sete vezes o criado executou a mesma ordem e o maestro tremia ao ver o olhar feroz do cabo das coristas. Por fim, este já condoido da vítima, acercou-se dele, e disse-lhe calmamente:

Para a outra vez, cuidado com a lingua senão duplico-lhe a dose.

E deu-lhe um aperto de mão...

Era assim o patusco do Zé Maria Saloio

I. R.

(Extraido do Diário Popular do dia 16 de Novembro de 1957) »
CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963 (sobre o livro)

« Passando em revista os nomes dos jogadores e mestres famosos, mais uns que reza a tradição e outros que conhecemos contam-se (..) José Maria da Silveira «Saloio», um reformador da técnica; (...)

(...) O Ginásio Clube Português, de tradições brilhantíssimas e tantas vezes glorificado pelos altos serviços prestados à educação desportiva da mocidade, e, por conseguinte ao rejuvenescimento da raça, na realização do seu amplo e patriótico objectivo instituiu, em 1890 a classe de jogo de pau que ali teve o seu primeiro mestre Pedro Augusto da Silva discípulo e depois auxiliar do célebre José Maria Saloio. »
Artigo em «O Século Ilustrado» de 1952 (ler a notícia)

Uma história pitoresca envolve José Maria Silveira e o seu discípulo durante uma exibição de Jogo do Pau no antigo Circo Price (demolido em 1880 para dar lugar à Avenida da Liberdade), realizada no âmbito de uma festa de caridade:

« José Maria Saloio prestou-se a tomar parte numa festa de caridade, fazendo exibição dos vistosos golpes em que era mestre. O seu antagonista, o discípulo favorito, respondia com brilho aos toques que aquele lhe disparava, o que fez pôr em dúvida a vitória do campeão. « Este , impassível, defendia-se, parecia que o custo, fugia dificultosamente com o corpo, protegia, dir-se-ía, que aflito, a cabeço, deixava o discípulo florear e apavonar-se com os aplausos que já vinha, da bancada, e, quando lá lhe pareceu, e todos quase apontavam o moço antagonista como vencedor, joga-lhe uma paulada à cabeça, atira-lhe com o pau para o chão e põe-no na arena sem sentidos. Surpresa geral nos espectadores. Passado o atordoamento dos primeiros instantes, os dois reconciliam-se «em campo», como é costume, e o vencido, depois de saudar o mestre, segredou-lhe ao ouvido:
- «O mestre não me tinha ensinado, ainda aquele bote...
E o José Maria Saloio, muito natural e pachorrentamente:
- «Nem ensino. Aquele joguinho é só para mim».
COSTA, Mário, Feiras e outros divertimentos populares de Lisboa, Municipio de Lisboa, 1950 (sobre o livro) »

« Jogo do pau : Esgrima característica portuguesa, há mais de dois séculos praticada pela gente do povo em algumas províncias, com o varapau, arma natural de que dispunha e que em princípios do século passado foi introduzida nos meios desportivos da capital por José Maria Silveira, conhecido pelo Saloio e a quem Eduardo Noronha se refere no seu livro O Último Marquês de Nisa
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Enciclopédia, Limitada, volume XX, 1949 (sobre o livro)

« O próprio desportismo profissionalizado, de hoje, arrasta memórias de homens rijos em músculos, mestres do nacionalíssimo «jogo-do-pau», reunindo-se no «Toscano», ao canto da travessa de Estêvão Falhardo - e todos sócios famosos do real Ginásio: José Maria da Silveira, o saloio; Tomás Jorge; José Maria Cristiano e Manuel Machado. »
Revista Municipal - Publicação Cultural da Câmara Municipal de Lisboa, nº 36, 1º trimestre de 1943 (sobre o artigo)

« A Escola de Lisboa, sem dúvida a mais brilhante da esgrima, portuguesa, foi fundada por José Maria da Silveira, que nasceu em 1805, num prédio da Calçada da Graça, Nº 13 (...)

É o jogo cuja base é a escola do celebre José Maria da Silveira, enriquecida com os famosos «cortes» do grande mestre Domingos Salreu e depois aperfeiçoada por José Gonçalves Dias (o 95) que, com a sua excepcional competência, conseguiu dar um notável desenvolvimento ao jogo de «cortes» e de «recortes». »
Artigo em «Novidades» de 1943 (ver mais)

«(...) colossal de estatura, desempenado, fonte energética, de cores sadias, faces de home decidido foi durante muito tempo cabo de coristas de S. Carlos. Tinha uma voz fortísima e vibrante de "baixo profundo". (...) Os pulsos eram grossíssimos. Nas mãos tinha força prodigiosa!... conta-se (...) ele assentava os dedos sobre cinco cruzados novos, postos numa mesa, e desafiava todos a demover-lhe o braço naquela posição! (...) nenhum dos homens mais esforçados de então conseguiam ganhar a aposta! O braço era de bronze - parecia fundido!
Ao canto da sua casa tinha uma grande bola de pedra, pesada e de enorme volume. Chamava-lhe a bola da paciencia, porque todos queriam levanta-la e a todos escorregava das mãos. Os mais reforçados de corporatura não conseguiam ergue-la, mas o Saloio fazia dela quanto queria!»
PONTES, José, Quási um século de desporto (1834-1924), Sociedade Nacional de Tipografia, Lisboa, 1924, p.25-26 (sobre o livro)

« (...) [Pedro Augusto da Silva] Discipulo directo do grande jogador de pau Jose Maria Saloio, foi na caza d'elle, no canto junto à igreja dos Caetanos, n'um quintal que ali existe, onde tambem era o popular theatrinho dos Inglezinhos, que se faziam magnificas sessões de jogo de pau, onde muitas vezes estivemos, gozando este bello trabalho de esgerima puramente nacional: d'alli sahiram bons discipulos, e, Pedro Augusto um bom mestre. (...) »
Artigo "O Tiro civil", número 130 de 15 Janeiro 1898 (ver recorte jornal)

« De fóra de Lisboa (de Setubal, se bem me recordo) viera a Lisboa um pimpão, para conhecer e comprimentar o Saloio. Quando logrou encontral-o apertou-lhe a mão, e quebrou-lhe um dedo! O desfeiteado calou a dôr e a affronta, e passado tempo foi á terra do seu amigo, e abraçando-o com a effusão de quem retribue um favor — quebrou-lhe uma costella!»
PALMEIRIM, Luís Augusto, Os excêntricos do meu tempo, Lisboa: Imprensa Nacional, 1891, pp.263-272, p.271 (sobre o livro)

« Estamos ainda a vel-o, com o seu enorme gabão cor de canella, amarrado com um cordel a cintura, as suas enormes barbas brancas crecidas até ao ventre, os seus enormes tamancos, saltando, levissimo, como um rapaz de vinte annos, fazendo sarilhos com o seo pau de jogo, um pequeno bordão de metro e meio e que nas suas mãos, apesar de encarquilhadas já pelos oitenta annos, era uma arma terrivel.

José Maria Saloio, Linha o seu barracão de ensino nos Caetanos. Era uma casa terrena espaçosa, coberta por um tecto de telhaa vã, d'onde pendiam uns candieiros que bruxuleavam uma luz tibia e indecisa.

Esse barracão era a sala nobre onde José Maria Saloio recebia as suas visitas entre as quaes se contavam muitos grandes do reino.

Este velho era popularissimo em Lisboa. Tinha sido corista de S. Carlos durante muitos annos, acompanhando as funcções de mestre da banda dos ex-alumnos cegos da Casa Pia.

José Maria Saloio dedicara se ao jogo do pau em que era eximio. Tinha sempre muitos discipulos, dos quaes o mais notavel era o sr. Pedro Augusto da Silva.

Acabamos de saber que esse velho a quem os annos não tinham conseguido tirar a força e a agilidade succumbiu as 4 horas da manha.

Paz à sua alma. »
Artigo do jornal "O Economista" de 1883 (veja mais)

Narração de um pisódio lendário da sua vida: ao ser criticado por um jornalista que mencionou o barulho causado por suas passadas no palco do Teatro de São Carlos, onde trabalhava como corista, José Maria decidiu responder de forma inusitada. Encontrou o crítico num café e, com calma intimidadora, obrigou-o a beber sucessivos copos de capilé (uma bebida adoçada), até que o homem, exausto e aterrorizado, foi liberado com um aviso de que da próxima vez enfrentaria consequências ainda mais “criativas”:

« José Maria Saloio

Este home, cujo fallecimiento noticiavamos ante-hontem, foi talvez o maior valente da sua geração em Lisboa. Elle era una figura lisboeta, quer dizer, d'aquelas que o Childo conhece e que sua conhecem o Chiado. A morte é um acontecimento no alto mundo que se move em peregrinações diarias d'elegancia, desde o Pote das Almas até ao Loreto.

Ainda a última hora, os seus oitenta e trez annos adorados de cabellos brancos, erectos na etatura massica de um athleta, di- ziam o que tinha sido a sua mocidade, robusta e sã. Elle era um bello velho, accusando a sua antiga força e a sua bondade, porque este gigante possuia a bondade dos verdadeiramente fortes.

Ouvindo-se a lenda maravilhosa das suas proezas, em que nunca faltára a um sentimento profundo de honestidade, podia-se ter a suggestão desse pom colosso S. Christovão que se vê nas lythographias d'Epinal, manso como um cordeiro sob o peso do Menino Jesuz, atravessando um ribeiro n'uma pernada das suas immensas pernas.

De José Maria Saloio, o hercules e o terrivel jogador de pau, não consta que alguma vez tivesse abusado gratuitamente da força, n'essas fanfarronadas tão frequentes em que se criam as reputações dos desordeiros. Uma vez, comtudo, revoltou-se-lhe a conseiencia com uma injustiça de que foi victima, e vingou-se por uma fórma que ficou lendaria apezar de picaresca.

Elle era corista em S. Carlos. Um dia, um critico musical que vive ainda e que n'esses tempos adivinhava talvez os modernos processos minuciosos, - pegando por tudo, como se costuma dizer, - escreveu no seu jornal, pouco mais ou menos:

«O que se não pode tolerar além do mau desempenho da opera, é que o corista José Maria faça um barulho d'ensurdecer com as suas passadas no palco, etc., etc.»

José Maria Saloio, effectivamente, com o seu enorme corpo, era uma trovoada que passava no palco de S. Carlos, sempre que entrava em scena. O edificio tomava-se de tremuras, n'essas occasiões, sob a mole d'quelle personagem. Era como se um cyclope subisse do Etna a dar o seu giro por entre as dansarinas e as comparsas.

Mas José Maria Saloio não gostou da coisa, e foi no dia seguinte procurar o critico a um café que havia onde é hoje a livraria Mattos Moreira. Não se troconnem uma palavra sobre o artigo.

O critico, que enfiara ao ver a sua victima sentar-se á sua propria meza, achou no mesmo terror a coragem necessaria para lhe offerecer:

- «Toma alguma coisa uma chavena de café?...».
- «Nada, muito obrigado.»
E voltando-se para o moço:
- «Um capillé môrno!»
Veio o capillé. José Maria Saloio chegou-o para deante do critico:
- «Mas espero que me fará a honra...»
- «Oh! decerto! decerto! Ainque eu já tomei café: é só para comprazer.»
- «Outro capillé!» - pediu José Maria Saloio ao moço.
E chegando-o tambem para o critico, que principiava a achar tanta amabilidade demasiadamente terrivel:
- «Agora, mais este!»
- «Nada, não posso mais.»
- «Ha de poder; beba sempre.»
E o critico, em suores frios, bebeu.
- «Rapaz, outro capillé!»
D'essa vez, o sollicito amphytrião só fez um gesto.
- «Mas, senhor, - exclamou o critico, - é impossivel mais, eu rebento!»
- «Deixal-o rebentar, - disse José Maria tranquillamente. - Beba!»
Depois, voltou-se para o creado:
- «Outro capillé!»
O critico já não suava nada que não fosse capillé morno. Tinha uma angustia no olhar. Mas bebeu, sempre pedindo graça, quarto, quinto e sexto capillé. No fim, o José Maria Saloio, despedindo-se, com a maior cortezia, d'aquella vasilha de capillés que ficava espapaçada sobre o seu banco, avisou:
- «Para a outra vez, faço-o beber doze; e depois... depois... (Procurou no espirito alguma coisa de terrivel)... e depois, ponho-lhe um pé na barriga!»

BELDEMONIO. »
Artigo «Diário Illustrado» de 25 setembro 1883 (ver mais)

« Da democracia transcrevemos a seguinte notícia:
Ainda vive e reside na rua do loureiro o velho mestre do jogo de pau, - José Maria Saloio.
Ha sessenta annos que dá lições do verdadeiro jogo nacional, sem que até hoje apparecesse quem o egualasse.
Sabemos que actualmente se acha enfermo, e por isso nos apressamos em dar esta infausta noticia aos seus amigos, que são todos quantos o tinham por mestre.
José Maria Saloio é conhecido como o primeiro mestre do jogo do pau, e foi durante quarenta annos cabo dos coristas de S. Carlos.
Foi sempre um homem de bem, probo e honradissimo: cumprimos um dever lembrando aos seus diacipulos que o seu velho mestre precisa dos que o estimam. »
Jornal da Noite de 1878 (ver mais)

«José Maria Saloio, que ainda dura, já hoje velho e dobrado, distinguiu se sempre nos lances de valentia, no vigor, na robustez, e também na prudência com que evitava os conflictos até o momento de os julgar indispensáveis.»
MACHADO, Júlio César, Á lareira, Lisboa: Livraria de Campos Júnior, 1872 (no conto «O homem das forças») (sobre o livro)

« (...) respondia com brilho aos toques que aquele lhe disparava, o que fêz pôr em dúvida a vitória do campeão. (...), e, quando lá lhe pareceu, e todos quase apontavam o moço antagonista como vencedor, joga-lhe uma paulada à cabeça, atira-lhe com o pau para o chão e põe-no na arena sem sentidos. Surpresa geral nos espectadores. Passado o atordoamento dos primeiros instantes, os dois reconciliarem-se «em campo», como costume, e o vencido, depois de saudar o mestre, segredou-lhe ao ouvido:

- mestre não me tinha ensinado, ainda, aquele bote...

E José Maria Saloio, muito natural e pachorrentamente:

- Nem ensino. Aquele joguinho é só para mim. »
SEQUEIRA, Gustavo de Matos, Teatros (secção), in O Século, Lisboa (ver mais)

Artigo do Jornal «O Tiro civil»

Destaca-se o artigo de Zacarias d'AÇA ao longo de seis números do jornal O Tiro civil, sobre o Mestre José Maria da Silveira, e o seu contra-mestre Pedro Augusto da Silva.

Veja todo o artigo compilado aqui

  1. Edição 6 (181) de 1 Março 1900 p.4-5 : O mestre José Maria da Silveira - O saloio (I) (ler o jornal completo)
  2. Edição 6 (182) de 15 Março 1900 p.5-6 : O mestre José Maria da Silveira (II) (ler o jornal completo)
  3. Edição 6 (187) de 1 Junho 1900 p.8 : O mestre José Maria da Silveira (III) (ler o jornal completo)
  4. Edição 6 (189) de 1 Julho 1900 p.5-6 : O mestre José Maria da Silveira (VI) (ler o jornal completo)
  5. Edição 6 (196) de 15 Outubro 1900 p.3-4 : O mestre José Maria da Silveira (V) - Pedro Augusto - o contra-mestre de José Maria (ler o jornal completo)
  6. Edição 6 (197) de 1 Novembro 1900 p.5 : O mestre José Maria da Silveira (VI) - Pedro Augusto - o contra-mestre de José Maria (ler o jornal completo)

Separata do Livro: Lisboa moderna

No livro Lisboa Moderna de 1906, Zacharias d’Aça, reserva 13 página para reescrever o artigo publicado anteriormente no «Diário da Manhã» em 1883, e depois em 1900, no «O Tiro Civil».

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Ver também

Referências

  1. Inicialmente, estimámos a data de 1805 com base na Biografia do Mestre Caçador, que indicava que teria falecido aos 83 anos em 1888. Contudo, conforme demonstrado pelos jornais da época, verificou-se que faleceu em 1883
  2. Artigo de «O Economista - Jose Maria Saloio» de 23 setembro 1883 (ver mais)
  3. LOPES, Paulo, O Jogo do Pau Português, 5livros, 2020 (sobre o livro)
  4. Artigo no «Diário da Manhã» de 1883 - ver mais: https://jogodopau.wiki/index.php?title=Artigo:_Di%C3%A1rio_da_Manh%C3%A3_-_A_esgrima_nacional
  5. ver mais: https://jogodopau.wiki/index.php?title=Livro:_Qu%C3%A1si_um_s%C3%A9culo_de_desporto_(1834-1924)

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