Anónimo

Mestre: António Moleiro

Fonte: Jogo do Pau Português
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Outros nomes Moleiro
Nascimento 10-07-1894
Morte 05-05-1970
Nacionalidade Portuguesa
Naturalidade Pinhal Novo
Escola Lisboa

Sobre

Mestre António Gaspar Caçoete, mais conhecido como António Moleiro, nasceu na Venda do Alcaide a 5 de maio de 1895. É possível que o apelido "Moleiro" tenha origem na sua ascendência, possivelmente ligada a moleiros da Ribeira das Alhadas, na freguesia das Alhadas, atual concelho da Figueira da Foz.[1]

Durante a sua juventude, António Moleiro trabalhou como funcionário da Casa Agrícola de Rio Frio, tendo sido destacado para a localidade de Valdera como guarda do pinhal da Casa Santos Jorge. Foi aí que nasceu a Escola do Pinhal de Valdera, onde ensinou o Jogo do Pau a várias gerações.

Moleiro foi inicialmente aluno do Mestre Daniel Lourenço, em 1911, e mais tarde, em 1919, aprendeu com o Mestre Augusto Calado, também conhecido como "Calado Campos" ou "Preto", um dos grandes nomes do Jogo do Pau Minhoto. Posteriormente, foi discípulo do Mestre Domingos Miguel, com quem solidificou o seu estilo, preferindo o jogo lisboeta ao estilo minhoto ensinado por Calado. Ao longo de 50 anos de prática e ensino, Moleiro formou uma vasta geração de jogadores e mestres, que, por sua vez, criaram novas escolas em locais como Valdera, Poceirão, Rio Frio e Atalaia.

As duas escolas que mais se destacaram na sua região, em termos técnicos, foram as de António Moleiro e Domingos Margarido, que geraram uma rivalidade acesa entre os seus discípulos, contribuindo para a difusão do Jogo do Pau no sul de Portugal. Devido ao seu trabalho e influência, a Escola de Valdera deixou um legado importante, sendo perpetuada por nomes como José Ribeiro Chula e Silvino Melro.

Uma história marcante da sua vida é o suposto duelo com Domingos Margarido. A lenda conta que os dois mestres, reconhecidos pela sua habilidade, marcaram um despique em Alhos Vedros, com tanta intensidade que teriam assinado um perdão prévio em caso de morte. Durante o duelo, o pau de Moleiro partiu-se, resultando numa lesão no braço e uma confusão generalizada entre as claques presentes, levando à intervenção das autoridades.

António Moleiro faleceu em 1970, aos 75 anos de idade, deixando um importante legado no Jogo do Pau, especialmente na região caramela. Muitos dos seus discípulos, como António Brinca e José Ribeiro Chula, perpetuaram a tradição e ajudaram a consolidar o Jogo do Pau como uma arte marcial e desportiva no sul de Portugal.

Destacamos alguns grandes Jogadores e Mestres formados pelo Mestre Moleiro:

Conhecimentos técnico

Mestres onde obteve conhecimentos técnicos do Jogo do Pau português:

Linhagem de Mestres (Link externo) Toda a escola de Lisboa (Link externo)

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Publicações onde é citado

«De todas as Escolas que rivalizaram na nossa região, duas se distinguem em termos técnicos, que alguns dos seus discípulos tentam manter. Devido a percursos e aprendizagens diferentes essas Escolas são simbolizadas nos seus principais mestres: António Moleiro e Domingos Margarido. Ambos caramelos, um de Pinhal Novo e o outro de Valdera. Foi em torno destes dois símbolos do Jogo do Pau Português que aprendem dezenas de jovens, do Penteado a Águas de Moura, de Palmela a Pegões. Os discípulos destes mestres formaram novos núcleos em praticamente todas as localidades da região.

O trabalho destes primeiros mestres, que estão referenciados documentalmente, de recolher e estudar todas as técnicas e estilos conhecidos, contactando regularmente com outras escolas e outros jogadores, permitiu que tudo pudesse ser sistematizado por duas figuras ímpares do Jogo do Pau Português, os Mestres José Ribeiro Chula e Silvino Melro. Em torno destas escolas assenta todo o saber do Jogo do Pau, Caramelo, do Sul, da Borda d’ Água, ou outra. Após a morte destes Mestres o Jogo do Pau na nossa região entrou em declínio.»
Artigo em Actas da 2ª Eira Folclórica da Região Caramela. Lagameças: 2 e 13, Fevereiro, 2000, Rancho Folclórico “Os Fazendeiros” das Lagameças, 2000 (ler todo o artigo)

« Dois nomes quase legendários da modalidade que toda a região de Pinhal Novo conheceu e admirou podem ser indigitados como paradigmas desse tipo de desportistas: mestres (era assim mesmo que justificadamente definiam) Moleiro e Domingos Henrique Margarido,.

Mencionei-os, não ao acaso, mas, com intenção seguindo a ordem alfabética, porque qual deles era, efectivamente, primeiro, nem eu, nem ninguém, pode afiançar.

Moleiro que, aliás, se chamava António Gaspar Caçoete, nasceu na Venda do Alcaide, em 5.5.1895. Domingos Henrique Margarido, no Pinhal Novo, poucos anos antes.

Pessoalmente, lidei bastante com o primeiro, podendo, assim, comprovar as positivas qualidades humanas que o caracterizaram, por uma delicadeza e compostura singulares em ambiente social rude levando-o, conforme sublinha um dos seus discípulos da esgrima portuguesa, a não tratar por tu uma simples criança desconhecida. Relativamente ao segundo, propus, com êxito, a atribuição do seu nome a uma rua de Pinhal Novo, quando integrei a Comissão Municipal de Toponímia.

(...)

Não sei se alguma vez Domingos Margarido e António Moleiro cruzaram as suas varas de lodo (que também podiam ser de castanho ou, mesmo de oliveira) em jogo frente a frente.

Diz-se, e li em dissertação de mestrado universitário, que ambos um dia se dispuseram em enfrentar mas sob uma condição: previamente, assinavam um perdoamento de morte com aprovação da autoridade competente. Quer dizer: se um morresse no despique o sobrevivente (se o houvesse), de antemão e por expressa disposição do falecido, ficava isento de toda e qualquer responsabilidade... »
Artigo em Actas da 1ª Eira Folclórica da Região Caramela, Pinhal Novo: 20 e 21 de março 1999 (ler todo o artigo)

« "O Margarido era (tinha) um jogo diferente do jogo do Moleiro. O jogo do Moleiro era um jogo mais ou menos o do jogo do Ateneu Comercial: (...) O do Margarido era um jogo duro, de um jogador antigo, que era o Varejão... (e o jogo) do Calado» (Entrevista ao Mestre António Brinca em 1989).

A escola do Pinhal Novo, rival da anterior, criada pelo mestre Domingos Henrique Margarido, natural do Pinhal Novo, e discípulo do mestre Calado, tinha um tipo de jogo extremamente violento, e manteve uma acesa rivalidade com a escola de mestre Moleiro (Valdera).

(...)

A Escola de Valdera foi liderada pelo mestre Antonio Moleiro, inicialmente aluno de mestre Daniel Lourenço (?), em 1911; em 1919, aprendeu com o mestre Calado Campos (o Preto), e posteriormente com o mestre Domingos Miguel.

(...) o António Moleiro ... foi o meu mestre (António Brinca) e o mestre do José Chula, mas tive umas lições... nós fomos aprender os quatro ao mesmo tempo, eu, um primo meu (Antonio Domingos Verissimo), o José Chula e o Silvino Melro (...)

A escola de Alhos Vedros - na Quinta das Pedras, inicialmente, e depois em clubes recreativos da região tinha como mestre José Ribeiro Chula (1908-1981), que juntamente com o irmão aprendeu o Jogo do Pau com mestre Moleiro, em Valdera.

No Poceirão (Lau), em Lagamessas, alternaram duas escolas orientadas por dois discípulos do mestre Moleiro, Custódio das Neves e Casimiro Delgado. »
Artigo «O Jogo do Pau em Portugal: processos de mudança, Universidade Nova de Lisboa» 1990 (ver mais)

« António Moleiro, deu lições em Valdera. »
CAÇADOR, António Nunes, Jogo do Pau: esgrima nacional, Lisboa: ed. Autor, 1963 (sobre o livro)

«Grandes assaltos de Jogo do Pau que tomam parte os distintos professores desta esgrima, srs: António Moleiro de Valdera; José Ribeiro Chula Junior, da Moita, e os ageis jogadores: António Verissimo e A. Brinca, da Carregueira; Henrique Valente, de Alhos Vedros; Manuel Curado, de Olhos de Água e Julio dos Santos, do Barreiro.»
Folheto de divulgação das Grandes Festas comemorativas do I aniversário do Grupo Musical "Os camponeses", Moita 1939 (ver folheto)

« (...) Foi com o mestre António Moleiro de Valdéra, um antigo discípulo de Domingos Miguel, que José Ribeiro Chula Júnior recebeu as primeiras lições de jogo do pau. »
Recorte de jornal de Sebastião D. M. Cerveira (ver mais)

« Mestre António Brinca,, foi um dos mais vigorosos jogadores de Pau de todo o nosso concelho, tal como alguns dos seus colegas de desporto muito deu e fez por deixar sempre presente que a vila da Moita foi, é, e será sempre uma referência no Jogo do Pau Portugués. Aprendeu a jogar em Valdera com o Mestre Moleiro e foi colega de equipa, entre muitos, do Mestre José Chula, outro grande nome do nosso concelho. »
Recorte de jornal (ver mais)

« (...)
Com o decorrer do tempo o Henrique Margarido foi-se tornando um eximio pralicante da modalidade.

(...)
Nessa época, existia no nosso sitio, um outro praticante do jogo do pau, de grandes créditos na modalidade, conhecido por Mestre Moleiro, cujo verdadeiro nome era António Gaspar Caçoete, sendo cerca de quatro anos mais velho do que o Henrique.

E o inevitável acaba por acontecer. Certamente que incentivados pelos elementos afectos, as suas claques, dois dos melhores praticantes da esgrima nacional, acabam por combinar um despique.

O duelo foi marcado para Alhos Vedros, tendo os dois assinado um papel (não há confirmação de que tal tenha acontecido, mas conta-se que assim foi) em que cada um deles, ilibava o outro de qualquer responsabilidade, caso algum viesse a morrer.

Deslocou-se muita gente a Alhos Vedros para assistir ao duelo que passava de boca em boca, seria de morte.

Durante o despique, o pau do Moleiro partiu-se e o Henrique atingiu-o num braço, tendo o Moleiro ido ao chão.

Gerou-se grande confusão entre as claques, havendo batalha campal, acabando por aparecer a autoridade que prendeu alguns elementos.

O Henrique Margarido conseguiu fugir, trocar de roupa, (a roupa que usavam no despique era toda branca) e esconder-se junto às agulhas na saida da Estação de Alhos Vedros no sentido da Moita.

As autoridades que tinham preso o Moleiro, Elias Margarido, Manuel Margarido e Augusto Margarido, foram à estação e revistaram o comboio à procura do Henrique Margarido.

Ele acabou por apanhar o comboio junto às agulhas, fazendo a viagem na máquina. E preciso lembrar que ele era ferroviário e que os camaradas na hora de aperto o ajudaram.

No comboio que trazia as pessoas que haviam ido assistir ao duelo, vinha também o Augusto Bragança, que era compadre do Henrique por ser padrinho da sua primeira filha (Dália) que ao chegar contou o que se havia passado, mas dizendo que o Henrique Margarido devia estar morto. (na altura da confusão, em que o Moleiro foi ao chão muitos pensaram que havia sido o Henrique e ninguém teve "calma" para ver o que se passou).

A mulher que estava grávida, ao receber a notícia da "morte" do marido, acabou por abortar.

Apesar de algum tempo depois o Henrique ter aparecido o mal já tinha acontecido.

Só depois deste episódio, nasceu a segunda filha, Zulmira (em 1928) e que nos contou esta historia que acabo de transcrever.

(...) »
Artigo O nosso sítio. "Memórias", Henrique Margarido (ver mais)

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